Manchetes Socioambientais
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“O encontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio perpétuo do mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim.”
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos fundadores do ISA
O tema "Povos Indígenas" está na origem da existência do Instituto Socioambiental. Lá se vão pelo menos quatro décadas de comprometimento e trabalho com o tema, produzindo informações para a sociedade brasileira conhecer melhor seus povos originários. Desde sua fundação, em 1994, o ISA dá continuidade ao trabalho do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que havia sido iniciado em 1980 e que, por sua vez, remonta ao começo dos anos 1970, quando o então governo da ditadura militar lançava o Plano de Integração Nacional, com forte componente de obras de infraestrutura na Amazônia, região que era então descrita pelo discurso oficial como um "vazio demográfico".
Por meio dos relatos coletados, dados produzidos e pesquisas empreendidas por uma rede de colaboradores espalhada pelas diversas regiões do País, o Cedi ajudou a derrubar essa tese. Ao dar publicidade às informações levantadas por essa rede social do tempo do telex, o Cedi colocou, definitivamente, os povos indígenas e suas terras no mapa do Brasil. Seus integrantes ainda participaram ativamente no movimento de inclusão dos direitos indígenas na Constituição de 1988 e, juntamente com integrantes do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI) e ativistas ambientais, fundaram o ISA em 1994.
De lá para cá, ampliando sua rede de colaboradores em todo o País, o ISA se consolidou como referência nacional e internacional na produção, análise e difusão de informações qualificadas sobre os povos indígenas no Brasil. O site "Povos Indígenas no Brasil", lançado em 1997, é a maior enciclopédia publicada sobre as etnias indígenas no Brasil, com suas línguas, modos de vida, expressões artísticas etc. O site é uma das principais referências sobre o tema para pesquisadores, jornalistas, estudantes e acadêmicos.
A atuação hoje é transversal aos territórios onde atuamos, especialmente na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e Pará, e Bacia do Rio Negro, no Amazonas e Roraima, e também envolve povos indígenas de todo o Brasil, por meio da atualização permanente do site e de seus mais de 200 verbetes, inclusão de novos textos sobre etnias emergentes e indígenas recém-contatados, além do monitoramento e cobertura jornalística sobre situações de violência e perda de direitos contra estas populações. O tema "Povos Indígenas" ainda é tratado no site "PIB Mirim", voltado ao público infanto juvenil e de educadores.
O monitoramento de Terras Indígenas também é um eixo central do nosso trabalho com o tema, e remonta à sistematização de dados e divulgação de informações iniciada pelo Cedi em 1986, e se dá por meio da produção de livros impressos e mapas temáticos sobre pressões e ameaças, como desmatamento, mineração, garimpo, obras de infraestrutura, entre outras, além do site "Terras Indígenas no Brasil".
Confira os conteúdos produzidos sobre este tema:
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Em formato de enciclopédia, é considerado a principal referência sobre o tema no país e no mundo |
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A mais completa fonte de informações sobre o tema no país |
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Site especial voltado ao público infanto-juvenil e de educadores |
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Painel de indicadores de consolidação territorial para as Terras Indígenas |
Em ‘Reahu na UFRR’, público na Universidade Federal de Roraima pode conhecer as obras Diários Yanomami e O Espírito da Floresta
Autores Yanomami levaram centenas de pessoas ao Centro Amazônico de Fronteira (CAF), maior auditório da Universidade Federal de Roraima (UFRR), na última sexta-feira (24/05) para “Reahu na UFRR”. O evento foi palco para os lançamentos dos livros Diários Yanomami e O Espírito da Floresta.
Em Diários Yanomami, cinco autores yanomami apresentam a percepção deles e de seu povo sobre os impactos do garimpo na Terra Indígena Yanomami entre 2019 e 2022, período em que o Jair Bolsonaro (PL) ocupava o cargo de presidente do Brasil. A gestão foi marcada por políticas que estimularam a invasão garimpeira no território.
Diários Yanomami: Testemunhos da Destruição da Floresta foi exposto pela primeira vez ao grande público durante o Reahu - palavra que significa festa em Yanomae - em Boa Vista. Todas as cópias disponibilizadas pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) na ocasião foram vendidas meia hora após o início do Reahu. O livro está em pré-venda na loja online do Instituto Socioambiental, que entrega para todo o país.
A Livraria Boa Vista também expôs os livros de Davi Kopenawa e Bruce Albert para venda durante o evento. O Espírito da Floresta e A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami tiveram alta procura do público, que tirou fotos com Kopenawa e pediu autógrafos ao final do evento.
Assista ao evento na íntegra!
Diários Yanomami foi escrito por Mozarildo Yanomami, Darysa Yanomami, Josimar Palimitheli Yanomami, Alfredo Himotona Yanomama e Marcio Hesina. Mozarildo e Darysa representaram o coletivo durante o evento.
“Eu fiquei muito feliz em ver todas estas pessoas e saber que estavam aqui pelo meu livro. Eu agradeço muito a todas estas pessoas e a Universidade Federal [de Roraima]. Eu sonhei muito com isso e por isso estou muito feliz”, contou Darysa ao ISA.
Mozarildo reforçou, em discurso ao público, o cuidado dos Yanomami com a floresta e pediu que os não indígenas prestassem atenção nas palavras colocadas em Diários Yanomami. Ele sublinhou, ainda, que as palavras foram escritas pelos próprios Yanomami e não por brancos.
“Mas se eu estivesse trabalhando sozinho, estas palavras não teriam sido divulgadas. O Instituto Socioambiental, a Diocese de Roraima e a Hutukara nos apoiaram. Por tanto, prestem muita atenção na devastação que os garimpeiros causaram na nossa Terra Yanomami. As palavras deste livro descrevem a destruição provocada pelo garimpo”, pontuou Mozarildo.
‘Nossa universidade é a floresta’
Este foi o segundo grande evento da UFRR com participação e forte atuação do xamã Yanomami Davi Kopenawa. Em setembro de 2022, o reitor José Geraldo Ticianeli o entregou o título de Doutor Honoris Causa em uma cerimônia virtual e com limitação de público em razão da pandemia de Covid-19.
“A educação indígena também faz parte da missão da Universidade Federal de Roraima. Conceder o título de Doutor Honoris Causa ao Davi Kopenawa em um momento historicamente importante de se posicionar para a universidade mostrou o nosso respeito aos povos originários e, principalmente, tornou o Davi um porta-voz da UFRR com este título”, disse Ticianeli.
Nesta nova oportunidade, Kopenawa falou sobre sua mais recente parceria com o antropólogo francês Bruce Albert e reforçou sua mensagem contra o garimpo em terras indígenas diante da acadêmia científica.
“O originário não tem universidade. A nossa universidade é a floresta. Eu aprendi olhando, escutando, cuidando e preservando a floresta. A nossa terra mãe nos ensinou a sonhar e olhar a beleza da nossa floresta”, disse Kopenawa durante seu discurso.
Yanomami mais próximos dos roraimenses
O Reahu na UFRR foi o primeiro grande evento de diálogo entre os Yanomami e as pessoas que vivem em Roraima. Historicamente, este povo indígena vive em cenário conflituoso marcado pelo forte posicionamento contra o garimpo ilegal na maior terra indígena do Brasil.
“A gente entende que a mensagem dos Yanomami é importante em qualquer lugar do mundo, mas em Roraima é ainda mais importante porque é onde eles vivem, é o contexto em que estão inseridos. É uma forma de sensibilizar também as pessoas que estão sempre em contato com eles”, explicou Estêvão Benfica Senra, produtor editorial do Diários Yanomami.
E a necessidade de aproximação com os Yanomami foi comprovada pelas palavras do público presente, que se diversificou entre jovens no início da graduação, adultos em processo de pós-graduação, experientes professores de todos os tipos de educação: básico, médio e superior e até figuras do poder público, como é o caso da defensora pública de Roraima Jeane Magalhães Xaud.
“A temática Yanomami tomou conta do meu dia, na verdade tem tomado conta dos meus dias no trabalho e também na vida social. Ouvir o Davi Kopenawa é luxo primordial, é necessário porque nós só poderemos compreender os Yanomami, como o Davi disse, através das palavras escritas por eles mesmos. O povo Yanomami é um povo que tem toda uma complexidade, quanto mais nós entendermos essa complexidade e estarmos abertos a ela, mais nós poderemos desimpactar o contato deles, por exemplo, com a nossa sociedade e com o nosso sistema de justiça”, afirmou Xaud.
Já a estudante de Ciências Sociais Enoá Vitória Mourão, de 24 anos, escolheu ir ao evento na noite de sexta-feira porque as palavras de Davi Kopenawa já fazem parte de sua pesquisa. Atualmente lendo A Queda do Céu, ela aproveitou para adquirir O Espírito da Floresta e poder estar na presença do xamã.
“Há locais que não conseguimos ter acesso, como a própria Terra Indígena Yanomami, e estar com o Davi Kopenawa aqui presente é uma oportunidade única. O Davi é uma pessoa que eu admiro e com quem eu gostaria de poder conversar por pelo menos cinco minutos é incrível”, contou emocionada.
Sobre os livros
Diários Yanomami é um livro realizado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e o Instituto Socioambiental (ISA). A produção editorial é assinada por Estêvão Senra, geógrafo do ISA, que também faz parte dos times de organização e edição junto a Alcida Ramos e Corrado Dalmonego. A tradução de Yanomae para Português foi feita por Dalmonego conjuntamente com os pesquisadores.
A publicação tem apoio do Fundo das Nações Unidas para a criança e adolescente (UNICEF), da Rainforest Foundation Norway e do Centro de Documentação Indígena (Missionários da Consolata). Também contribuem com apoio financeiro o Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO) da União Europeia.
O Espírito da Floresta reúne textos originalmente publicados entre 2002 e 2021 em inúmeras exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier. O livro é dividido em 16 capítulos com textos intercalados entre os autores e está à venda online na Companhia das Letras, na livraria Boa Vista.
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Em seu primeiro ano, iniciativa contou com a participação de quatro cineastas e reuniu cerca de 630 pessoas em São Gabriel da Cachoeira (AM)
Em São Gabriel da Cachoeira, cidade do Amazonas às margens do Rio Negro e cercada pela floresta, diariamente, por volta das 18h30, acontece a revoada dos pássaros japu. E logo após esse horário, quinzenalmente, chega também a hora do Cine Japu.
O projeto levantou voo em 2023 por iniciativa do Instituto Socioambiental (ISA), com participação da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas. Até o momento, foram promovidas 15 sessões, reunindo um público de cerca de 630 pessoas – média de 42 por sessão. Na plateia, de predominância indígena, há estudantes, professores, religiosos, funcionários públicos, militares, pessoas de todas as idades.
Além das sessões de cinema, o Cine Japu promove rodas de conversa e encontros para ampliar horizontes, fortalecer a cultura indígena, conectar pessoas, mostrar realidades diversas, informar e divertir.
Para a coordenadora-adjunta do Programa Rio Negro do ISA, Natália Pimenta, o Cine Japu é um projeto que vem promovendo o encontro de que aproxima a organização da cidade de São Gabriel da Cachoeira, seus moradores e instituições e, por isso, é tão importante. “Com o Cine Japu, estamos convidando as pessoas para virem ao ISA, que está de portas abertas para a comunidade de São Gabriel”, falou.
À frente dessas rodas, conduzidas pela comunicadora Suellen Samanta, povo Baré, estiveram quatro cineastas: Moisés Baniwa, Mariana Lacerda, Júlia Berstein e Maya Da-Rin. Outros debates foram realizados por funcionários públicos, pesquisadores e lideranças indígenas.
“Conseguimos trazer nas sessões emoção e reflexão para os nossos espectadores, principalmente chamando atenção para diversas questões e realidades. O Cine Japu também possibilitou a transmissão de valores de luta, sobrevivência e conquistas dos direitos da causa indígena. Através do cinema e da arte, conseguimos alcançar este espaço de grande importância e representatividade para a população gabrielense”, refletiu Suellen Samanta.
As sessões de 2023 foram inauguradas e encerradas por indígenas. A primeira exibição do Cine Japu aconteceu em maio, com o filme Wayuri, de Diana Gandra, documentário que traz a história dos cinco primeiros anos da rede de comunicadores. Na roda de conversa, estavam os protagonistas: os próprios comunicadores.
Na mesma noite foi exibido o documentário Wetapena Nette Ianhapakatti (“Nossos remédios e benzimentos”), de Moisés Baniwa, também presente na sessão.
Já na última exibição de 2023, em novembro, o Cine Japu – que acontece no telecentro do ISA – levantou voo e chegou à Maloca-Casa do Saber da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), com o lançamento em São Gabriel da Cachoeira do documentário Rionegrinas, que narra a história de luta e resistência das mulheres dentro do movimento indígena do Rio Negro.
A primeira exibição do documentário aconteceu em setembro, na Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, em comemoração aos 20 anos do Departamento das Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN-Foirn).
O Cine Japu também recebeu ao longo de 2023 três diretoras de cinema. A cineasta Mariana Lacerda trouxe o delicado e impactante Gyuri, com exibições em Boa Vista, Manaus e São Gabriel da Cachoeira. Ela conduziu a roda de conversa ao lado da liderança indígena Braz França, povo Baré, – que faleceu alguns meses depois – e da artista Rosi Waycon, do povo Piratapuya. O filme mostra a ligação da fotógrafa Claudia Andujar com o povo Yanomami.
Na plateia, a enfermeira Clara Opoxina, que trabalha com os Yanomami, se emocionou ao comentar que a crise retratada na tela estava se repetindo no atual momento devido à invasão garimpeira.
A cineasta Julia Bernstein participou da sessão que exibiu o filme Karai ha'egui kunha karai 'ete - Os Verdadeiros Líderes Espirituais, de Alberto Alvares. Ela fez parte da equipe de filmagens. Júlia Bernstein desenvolveu oficinas com comunicadores indígenas e repassou sua experiência.
Para ela, o cinema pode aproximar os jovens indígenas de suas tradições. “O audiovisual, que é uma coisa da tecnologia, que interessa muito aos jovens, pode reconectar os jovens com a tradição também. O que o Alberto faz é a preservação da memória, do modo de vida Guarani e da história das pessoas”, disse ela, na roda de conversa.
Maya Da-Rin exibiu em São Gabriel da Cachoeira o filme A Febre, conduzindo a roda de conversa. No elenco do filme estão dois indígenas de São Gabriel da Cachoeira: Regis Myrupu e Rosa Peixoto. Boa parte dos diálogos é em língua indígena. Na plateia formada principalmente por indígenas de São Gabriel, muitos reconheceram sua língua.
“Eu esperei muito pelo lançamento do filme aqui em São Gabriel da Cachoeira e ainda sonho com a exibição no território indígena. Logo após o filme ficar pronto, veio a pandemia. E isso atrasou esse encontro que acontece agora”, disse. Maya Da-Rin também realizou uma oficina de cinema com os comunicadores da Rede Wayuri.
O senhor Laurentino, povo Desana, conhecedor tradicional, assistiu ao filme e falou da importância da história de cada indígena. “Cada um de nós tem a sua história. O indígena tem que ser protagonista da sua história”, disse.
Essa exibição contou com a presença especial do Dr. Dráuzio Varella, médico, escritor e comunicador que estava em São Gabriel e foi conhecer o Cine Japu.
Em uma parceria com projeto do Museu de Berlim, em uma das sessões foram exibidas entrevistas gravadas no Rio Negro com a temática do contato entre indígenas e não indígenas. A roda de conversa foi conduzida pelo comunicador Ray Baniwa. Na plateia, estudantes de arqueologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) trouxeram a importância do projeto trazer as narrativas indígenas.
Em duas sessões, foram feitos convites especiais a duas comunidades: Os moradores do Waruá, do povo Dâw, assistiram ao filme Gyuri. Já a comunidade de Itacoatiara Mirim contou com a presença da liderança indígena, Luiz Laureano, para assistir ao filme A Febre.
O Cine Japu também promoveu uma sessão infantil, indo até a Escola Mamãe Margarida, voltada a crianças portadoras de necessidades especiais.
Entre outros convidados, também conduziram as rodas de conversa a antropóloga do ISA Dulce Morais, a economista do ISA Ana Letícia Pastore, a defensora Isabela Sales, a coordenadora do DMIRN, Cleocimara Reis, do povo Piratapuya e as lideranças femininas Edneia Teles, do povo Arapasso e Rosilda Cordeiro, do povo Tukano.
Um dos grandes incentivadores do projeto foi o arcebispo de São Gabriel da Cachoeira, Dom Edson Damiam, que esteve presente na maioria das sessões e ainda fez divulgações na missa na catedral da cidade. Entre outros apoiadores estão o Instituto Federal do Amazonas (IFAM), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Colégio São Gabriel, ICMBio, Defensoria Pública e Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (Assai).
A primeira sessão de 2024 aconteceu ainda em abril, Mês dos Povos Indígenas. Na terça-feira, dia 30 de abril, a Sala Dagoberto Azevedo, Suegu, na sede do ISA, recebeu moradores da comunidade Waruá, alunos do curso de Letras da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), professores, pesquisadores e o público em geral para a exibição do filme Línguas da Floresta (direção Juliana de Carvalho e Vicente Ferraz). O filme traz imagens gravadas em São Gabriel da Cachoeira e outros locais.
No evento, uma roda de conversa com a presença de Roberto Sanches, liderança do povo Dâw, e do professor Flávio Ferraz, do povo Wanano, discutiu o fato de que em São Gabriel - a terceira cidade mais indígena do país - muitos dos nomes das ruas, praças e pontos turísticos não são em línguas indígenas.
As sessões do Cine Japu acontecem quinzenalmente às terças-feiras, às 19h, no Telecentro do ISA. A entrada é gratuita e ainda há distribuição de pipoca e suco. Participe!
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Demarcação e preservação das Terras Indígenas, atuação na COP 30 e proteção das mulheres foram soluções apresentadas nos debates
A importância da unidade dos povos indígenas de todo o mundo frente às emergências climáticas foi o tema central dos debates da plenária “Articulação Internacional dos Povos Indígenas: defendendo nossos direitos nas agendas do clima e da biodiversidade”, realizada no terceiro dia do 20º Acampamento Terra Livre (ATL).
Lideranças de diversos países, que atuam em conjunto com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outras organizações brasileiras trouxeram os desafios e consequências das mudanças no clima em todo mundo, e que afetam, sobretudo, os territórios e a vida dos povos indígenas.
"Se é para pensar economia da biodiversidade, tem que falar de preservação das nossas terras", afirmou a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), que chegou acompanhada de mulheres Maxacali|Lucas Landau/ISA
Kleber Karipuna, coordenador-executivo da Apib, ressaltou a urgência da atuação conjunta internacional das organizações indígenas para impedir as políticas que colocam em risco seus direitos. “O ATL está trazendo novamente os parentes de outros países para conhecerem a nossa realidade, e nós conhecermos a realidade deles, para juntos, nessa aliança global de povos indígenas, podermos lutar para a melhoria dos nossos direitos, em nossos territórios e em todo mundo”, ressaltou.
Representando a Aliança Mesoamericana dos Povos das Florestas, Levi Sucre, da Costa Rica, reivindicou que os conhecimentos dos povos originários sejam reconhecidos na luta contra as mudanças climáticas e destacou o direito à consulta prévia, livre e informada.
“Exigimos consultas ao nosso povo para todos os projetos, todos os direitos e todas as leis. E queremos que nossos conhecimentos sejam reconhecidos e respeitados para combater os problemas das mudanças climáticas. Como aliança global, acreditamos na mensagem que é trazida pela Apib aqui no ATL: nosso tempo é ancestral, não temporal”.
Saiba mais sobre o direito à consulta prévia, livre e informada.
Rukka Sombolinggi, representando cerca de 20 mil comunidades da Indonésia, enfatizou que os povos indígenas no mundo todo enfrentam os mesmos desafios quando a pauta são os seus direitos e as graves consequências da crise climática.
“Nossa riqueza e nossas terras estão sendo roubadas. A vitimização dos nossos povos tem levado hoje ao que chamamos de crise climática. E, enquanto líderes globais estão tentando encontrar acordos para esses problemas, nossos povos continuam em risco.”, disse Rukka, que também falou em nome da Aliança Global de Comunidades Territoriais.
A liderança indonésia lembrou que em 2025 acontece a COP 30, em Belém (PA), e que as organizações e lideranças indígenas precisam trabalhar juntas, “para garantir que esse evento seja capaz de virar a mesa nesse tema”.
Saiba mais sobre a COP 30, que acontecerá em Belém
A diretora do Museu dos Povos Indígenas, Fernanda Kaingang, fez uma fala contundente na defesa da biodiversidade brasileira e contra o sequestro da propriedade intelectual dos produtos extraídos das florestas, denunciando o enriquecimento de grandes indústrias a partir dos saberes dos povos indígenas.
“É preciso que nossos sábios sejam ouvidos e sejam valorizados como mestres do saber. É preciso que a ciência dos povos indígenas seja reconhecida e valorizada, que se peça o consentimento livre, prévio e informado, que se pague pelo uso do conhecimento dos povos indígenas e que se reparta os benefícios pelos papéis ambientais que nós temos prestado na conservação da biodiversidade que o mundo precisa para sobreviver”, ressaltou.
Ela lembrou que a biodiversidade tem papel importante na luta para enfrentar a emergência climática. As florestas, por exemplo, protegem grandes estoques de carbono que, se liberados na atmosfera, podem agravar o aquecimento global.
Gênero e tragédias socioambientais
Na tarde do segundo dia do ATL (23/04), a pauta climática também esteve presente na plenária “Mulheres Biomas na construção de agendas rumo à COP 30”, organizada pela Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Conduzido pela secretária executiva da organização, Joziléia Kaingang, o debate contou com a participação de lideranças mulheres de diversos povos.
Na plenária, também foram feitas denúncias de casos graves de violência contra mulheres indígenas nos territórios. Muitas enfatizaram que não é possível falar de luta contra a crise climática sem garantir a proteção dos corpos e da vida de quem preserva os territórios e os biomas.
“Nossos corpos e lideranças estão sendo criminalizadas e as mulheres indígenas são as que mais morrem. Peço que acolham as denúncias das nossas parentas, sobre a violência que vivemos em nossas comunidades”, afirmou Marinete Tukano, da articulação Makirae'ta, após ler uma carta assinada pela Makirae'ta e a Anmiga sobre a realidade das mulheres indígenas no Estado.
Elisa Pankararu, liderança de Pernambuco e coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), falou da importância de se reconhecer os biomas como espaço de resistência e denunciou o racismo ambiental como estruturante da crise do clima.
"As mudanças climáticas não são previsões, elas já existem e estão postas. E quem sofre é a nossa gente que mora nas periferias e no campo. Nós que não somos responsáveis, nós que não poluímos os rios, somos os que estamos pagando a conta. Todos os outros também serão atingidos", denunciou.
A representante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (ArpinSudeste), Neusa Martine, do povo Guarani Nhandeva, de Paraty (RJ), trouxe a voz das mulheres indígenas da Mata Atlântica, destacando a luta por demarcação das terras, aliada às lutas contra a emergência climática e a violência contra as mulheres indígenas.
“Temos que conscientizar jovens, homens, mulheres e a sociedade como um todo de que precisamos proteger nossos corpos para continuar protegendo nosso meio ambiente. 80% da biodiversidade protegida está dentro das Terras Indígenas. Precisamos implementar, fortalecer e levar projetos para nossos territórios e para a Mata Atlântica”, pontuou.
Braulina Baniwa, ex-secretária executiva da Anmiga, destacou a participação das mulheres indígenas na organização da bioeconomia nos territórios indígenas e, como consequência, no enfrentamento à emergência climática.
“Convido vocês a conhecer a ciência indígena das mulheres e a bioeconomia que nós produzimos dentro dos nossos territórios. A bioeconomia que precisa ser reconhecida e valorizada. A renda precisa chegar nos territórios e reconhecer nosso trabalho manual enquanto mulheres indígenas. O nosso produto, que disputa os mercados, precisa ser considerado produto ancestral, que carrega nosso conhecimento coletivo como povos indígenas”, disse.
Mapa de organizações das mulheres indígenas
Durante a plenária das mulheres biomas, a secretária-executiva da Anmiga, Joziléia Kaingang, falou também da construção da 2ª edição do Mapa das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil, organizado pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Anmiga.
O trabalho, que tem previsão de lançamento no segundo semestre, atualiza a primeira edição, lançada em 2020 também pelo ISA.
Para a atualização dos dados, a Anmiga fez um chamado a todas as lideranças a preencher um formulário com as informações de suas organizações e, durante este ATL, pesquisadoras do ISA e da Anmiga também realizaram uma ação de checagem dos dados.
“No ano de 2020, o ISA identificou 92 organizações de mulheres indígenas. Até esse momento, nós já temos mais que o dobro dessas organizações nesse novo levantamento. Então isso, para nós mulheres indígenas, é muito importante para pensarmos em cada região, como a gente dialoga, constrói e atualiza as nossas necessidades e demandas e as nossas construções como Anmiga, a partir do mapa”, explicou Joziléia. Segundo ela, o mapa comporta os diversos tipos de organizações, coletivos, associações ou articulações.
De acordo com Luma Ribeiro Prado, analista do programa Povos Indígenas no Brasil do ISA, a 2ª edição do mapa é uma produção colaborativa entre o ISA e a Anmiga e comprova um crescimento acentuado das organizações de mulheres indígenas no Brasil.
“Organizações que se entendem de várias formas, como movimento, como comissão, como comitê, como coletivo. E isso é muito importante porque mostra a diversidade da forma de organização dessas mulheres”, destaca.
“Emergência climática: povos indígenas chamam para a cura da Terra”
A noite cultural do primeiro dia do Acampamento Terra Livre (22/04) foi aberta com o lançamento da obra “Emergência climática: povos indígenas chamam para a cura da Terra”, do caderno da Semana dos Povos Indígenas 2024, de autoria de Ju Kerexu, coordenadora da Apib, e Cristiane Julião Pankararu.
No material, as escritoras apontam alternativas que os povos indígenas já vêm trazendo há algum tempo como forma de adaptação e mitigação dos efeitos da emergência climática.
“Emergência porque a terra está gritando e pedindo socorro faz tempo. A gente tem a crença que a natureza tem a sua total autonomia e ela conversa com a gente. Então, quando a gente busca essa conexão ela dá seus sinais. Nós entramos numa linha que é emergencial e nós precisamos agir”, ressaltou Cristiane Julião Pankararu.
O caderno é uma produção da FLD Projetos de Vida e do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin) e ilustrado pela artista indígena Wanessa Ribeiro.
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Milhares de indígenas saíram em marcha do Acampamento Terra Livre (ATL) até o Congresso Nacional, onde sessão solene condenou ameaça aos direitos dos povos originários
Milhares de indígenas de diversos povos acampados no ATL 2024 marcharam até o Congresso Nacional exigindo a demarcação de seus territórios|Lucas Landau/ISA
“Hoje, aqui, é um momento de registrar mais um marco. São 20 anos de história. O acampamento Terra Livre [ATL] não é mais a maior mobilização indígena do Brasil. O Acampamento Terra Livre já se tornou a maior mobilização indígena do mundo! E eu tenho muito orgulho de estar aqui hoje falando como ministra indígena do Estado Brasileiro”.
Acompanhe a cobertura do ISA do ATL 2024:
☀️ Bom dia desde o #ATL2024!
— socioambiental (@socioambiental) April 23, 2024
Milhares de indígenas mobilizados no Acampamento caminham agora até o Congresso Nacional durante a “Marcha #EmergênciaIndígena: Nossos Direitos não se negociam”.@walela15, liderança e ativista climática, fala sobre as expectativas com o ato. pic.twitter.com/V4pzV58v6D
Acompanhe a cobertura dos comunicadores da Rede Xingu+
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, comemorou o aniversário de 20 anos do ATL durante sessão solene no Congresso, que reuniu, nesta terça-feira (23/4), centenas de lideranças indígenas e parlamentares aliados da causa indígena.
Homenagem aos 20 anos do Acampamento Terra Livre, na Câmara dos Deputados! Uma honra participar da Sessão Solene convocada pela deputada @celiaxakriaba, que reuniu mais de 500 indígenas, além de parlamentares que estão ao lado dos povos indígenas. pic.twitter.com/XzD4AG0bCX
— Sonia Guajajara (@GuajajaraSonia) April 23, 2024
A cerimônia, liderada pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), aconteceu logo após uma marcha, que saiu do acampamento, no Eixo Cultural Ibero-americano (Complexo Cultural Funarte), e terminou na sede do legislativo.
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Dentro e fora do Congresso, o movimento indígena reforçou as principais demandas do acampamento, expressas na Carta Manifesto divulgada um dia antes: as demarcações de Terras Indígenas e o fim da tese do Marco Temporal e da agenda anti-indígena no Congresso.
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Veja quais são os principais problemas e inconstitucionalidades na Lei do Marco Temporal
Chegada ao Congresso Nacional: participantes do ATL 2024 de diversos territórios se uniram para repudiar a tese ruralista do Marco Temporal|Lucas Landau/ISA
“A tese do Marco Temporal não se sustenta em pé, mas mesmo assim segue sendo sustentada pelos interesses de quem não tem comprometimento algum que não seja com o próprio lucro às custas da destruição do planeta. O que estamos vivenciando é uma profunda guerra nos territórios”, denunciou a deputada Célia Xakriabá em coletiva de imprensa antes da sessão.
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“Nunca mais um Brasil sem nós!”, demarcou em sua fala no plenário a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, que saudou os 20 anos do ATL e relembrou que, no primeiro acampamento em 2004, a primeira demanda que os povos indígenas trouxeram a Brasília foi também a demarcação das Terras Indígenas.
“Nós somos brasileiros e brasileiras, detentores de direitos sociais, cidadania. Mas, principalmente, que merecem respeito. Hoje, nós viemos dizer não à negociação de direitos. A prioridade é derrubar cada barreira que impede a demarcação de Terras Indígenas. Que a gente nunca esqueça o motivo de estar aqui”, afirmou.
Demarcação já! Indígenas e parlamentares presentes à sessão solene no Congresso Nacional que celebrou os 20 anos do ATL|Ester Cezar/ISA
Parte das falas abordou decisão de ontem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que determinou a instauração de um processo de conciliação no conjunto de ações que relata e que questionam a constitucionalidade do Marco Temporal, tese anti-indígena derrubada no STF, em setembro, mas que, pouco depois, tornou-se lei promulgada pelo Congresso.
Leia aqui:
Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’
Plenária sobre Marco Temporal
Na parte da tarde, a plenária “Os desafios enfrentados pelos povos indígenas frente à aprovação da Lei do Marco Temporal” trouxe o posicionamento de integrantes do movimento indígena e de organizações indigenistas sobre a tese ruralista. Estiveram presentes também representantes do poder público.
Mauricio Terena, coordenador jurídico da Apib, comemorou a presença dos advogados indígenas no ATL, “que hoje estão dedicando suas trajetórias profissionais para a defesa e fortalecimento das organizações”. Ele ressaltou que o momento é delicado para a luta indígena: “temos que comemorar, mas eu acho que o Acampamento Terra Livre deste ano é pra gente repensar as nossas estratégias de luta”.
Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal se tornou uma arena de disputa dos direitos indígenas. “O texto constitucional de 1988 está sendo descaracterizado, está sendo descaracterizado o direito originário dos povos indígenas”, afirmou.
Diego Bruno Martins, defensor regional de Direitos Humanos em Alagoas, reforçou em sua fala que o Marco Temporal é inconstitucional e prometeu estar lado a lado dos povos indígenas “para derrubar mais essa tentativa de enfraquecimento dos direitos dos povos indígenas".
A advogada do Instituto Socioambiental (ISA) Juliana de Paula Batista disse que existe uma crise entre o Judiciário e o Legislativo que vem sendo gestada e causada pela bancada ruralista. “Espero que não seja a pauta indígena a saciar a fome dos cupins [...] É um momento importante de união pra gente dizer que esses direitos são inegociáveis”, avaliou.
Leia artigo de Juliana de Paula Batista: Marco temporal: naturalização de um estado de indigência para os povos indígenas
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Apresentado no primeiro dia do evento, documento pede urgência nas demarcações de Terras Indígenas e combate à agenda anti-indígena no Congresso Nacional
Compromisso com a demarcação de Terras Indígenas, declaração de inconstitucionalidade da Lei 14.701/2023 do Marco Temporal e combate à agenda anti-indígena no Congresso Nacional. Estas foram as principais demandas trazidas na carta “Vinte anos de Acampamento Terra Livre e a Urgência da Ação”, lida ao fim do primeiro dia (22/4) de atividades do Acampamento Terra Livre (ATL) 2024.
O documento é um registro histórico da leitura do movimento indígena em relação ao momento político do país e traz 25 demandas endereçadas aos Três Poderes, especialmente ao Executivo. “Já estamos no segundo ano de governo, e as suas promessas sobre demarcações continuam pendentes”, afirma a carta.
Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologou apenas duas Terras Indígenas, das seis esperadas, gerando grande frustração no movimento indígena.
Nesse sentido, a carta cobra a homologação imediata das outras quatro áreas. São elas: Xukuru-Kariri, do povo Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios (AL); Morro dos Cavalos, dos povos Guarani Mbya e Guarani Nhandeva, em Palhoça (SC); Toldo Imbu, do povo Kaingang, em Abelardo Luz (SC); e Potiguara de Monte-Mor , do povo Potiguara, em Marcação (PB) e Rio Tinto (PB).
Além delas, o documento também exige a volta das declarações de Terras Indígenas, etapa anterior à portaria homologatória. A Declaração, uma atribuição do Ministério da Justiça, segue estacionada desde 2018. No atual governo, dois ministros já passaram pelo cargo: Flávio Dino, que deixou a função sem declarar nenhuma Terra Indígena; e Ricardo Lewandowski, que assumiu a pasta em fevereiro e mantém o saldo de seu antecessor.
Saiba mais sobre a situação de demarcação das Terras Indígenas no Brasil aqui.
“Nosso tempo é agora, urgente e inadiável”
Outro ponto da carta cobra que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue inconstitucional a Lei 14.701/2023. Aprovada em dezembro de 2023, ela ressuscita a tese do “marco temporal”, já derrubada anteriormente pelo STF; limita o usufruto exclusivo de Terras Indígenas aos povos indígenas; coloca entraves no processo de demarcação; entre outros retrocessos.
O manifesto também cobra um maior empenho do governo federal em combater a pauta anti-indígena que continua ganhando força no Congresso Nacional na forma de projetos de Lei e emendas constitucionais.
“Nós não estamos vendo essa mobilização, exceto do Ministério dos Povos Indígenas, que tem feito muitas vezes de forma isolada e, em alguns momentos, outros ministérios se somam. Mas quando nós cobramos, é o todo, são todos os ministros envolvidos, é a Casa Civil, é o presidente da república se colocar e, de fato, abraçar as causas indígenas e não ficar só na narrativa nas entrevistas ou dos momentos onde há visibilidade pública”, criticou Kretã Kaingang, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), durante a primeira coletiva de imprensa do ATL.
Neste ano, pela primeira vez na história da mobilização, a apresentação da carta foi feita logo na abertura do evento, com a expectativa de que as reivindicações do movimento indígena recebam respostas dos Três Poderes ainda esta semana, de acordo com Kleber Karipuna, coordenador-executivo da Apib.
“Em retribuição às duas vindas dele [do presidente Lula] ao nosso acampamento nos últimos dois anos, neste ano nós decidimos nos receber no Planalto”, brincou Kleber. De acordo com ele, a marcha prevista para quinta-feira (25/04) deve levar o público do ATL à Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, para fazer cobranças em relação à atuação do governo frente aos direitos dos povos indígenas, especialmente sobre a questão da demarcação.
Entre os pontos de maior destaque na carta, estão:
- - STF julgar a inconstitucionalidade da Lei nº 14.701/2023;
- - Homologação das Terras Indígenas Morro dos Cavalos, (SC); Toldo Imbu, em (SC), Xucuru Kariri, em (AL) e Potiguara de Monte-Mor, em (PB);
- - Declaração pelo Ministério da Justiça de 23 Terras Indígenas;
- - Homologação de todas as Terras Indígenas que ainda não tiveram seu processo finalizado;
- - Combate à agenda anti-indígena no Congresso Nacional.
Primeiro dia de ATL
Além da divulgação da carta-manifesto com as principais reivindicações do movimento indígena nacional, o primeiro dia de ATL foi marcado pela recepção às diversas delegações de povos indígenas de todo o Brasil e por plenárias e rodas de conversa promovidas pela Apib e suas organizações de base
Veja como foi a apresentação das delegações na tenda principal do ATL:
🏹☀️ Bom dia desde o #ATL2024, em Brasília (DF)!
— socioambiental (@socioambiental) April 22, 2024
A maior mobilização indígena do país começa hoje (22/4) e celebra sua 20ª edição com o tema “Nosso marco é ancestral, sempre estivemos aqui”.
📸 Lucas Landau/ISA pic.twitter.com/K8Bs5QVnhH
Kleber Karipuna trouxe o histórico da maior mobilização dos povos indígenas do Brasil durante a mesa "ATL 20 Anos: ferramentas da luta política do Movimento Indígena", que contou com outras lideranças da Apib.
Para ele, ao longo desses 20 anos, a luta dos povos e do movimento indígena demonstra quais têm sido os caminhos da resistência indígena desde a invasão europeia. "Mesmo com altos e baixos, a gente iniciou um acampamento há 20 anos atrás com 200 pessoas e hoje temos quase oito mil", comemorou.
Dinaman Tuxá, coordenador-executivo da Apib, fez um balanço da conjuntura: " Nós vivenciamos um momento tenebroso. Todos nós aqui, todos os povos indígenas, outros movimentos sociais também. E nesses 20 anos nós estamos aqui, fazendo esse marco histórico que se inicia em 2004 e que não vai acabar em 2024. Nós reforçamos essa data para ficar cada vez mais marcado que propostas e demandas realizadas há 20 anos atrás ainda não foram cumpridas".
Juliana Kerexu Guarani, coordenadora-executiva da Apib, finalizou o painel que comemorou os 20 anos do ATL demarcando a presença indígena em Brasília. “Esse território tem dono, esse território tem dona. Nesta capital, em que muitas e muitas vezes tentaram nos matar, mas não conseguiram, estamos aqui mais uma vez”.
Crise no Vale do Javari
Em atividade na tenda da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) aconteceu uma roda de conversa entre lideranças do Vale do Javari (AM) – território indígena do país com maior registro de grupos em isolamento voluntário, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) – e jornalistas e indigenistas.
Falaram na atividade Beto Marubo, do povo Marubo, e Waki Mayoruna, do povo Mayoruna, e jornalistas que cobrem a pauta indígena – Rubens Valente, Sonia Bridi e Miriam Leitão – e o sertanista Sydney Possuelo, que há quatro décadas se dedica à proteção dos povos indígenas isolados.
Bruno Pereira, indigenista assassinado em junho de 2022 junto com o jornalista inglês Dom Phillips, foi recordado por todos os presentes, sobretudo pelo esforço que o servidor licenciado da Funai empreendia para fomentar alternativas econômicas aos beiradeiros da região – no sentido de conter as invasões frequentes aos territórios indígenas por pescadores e caçadores.
“As coisas não estão fáceis. Quando a gente quer fiscalizar nossa terra, nós mesmos fazemos. A polícia não prende, qual o papel da polícia ali? O Estado deveria se responsabilizar por isso e hoje não tem ninguém da Funai”, lamentou Waki Mayoruna. Segundo ele, caçadores estão retirando grandes quantidades de tracajás para venda e prejudicando o sustento das populações indígenas.
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Acampamento, que acontece de 22 a 26 de abril, em Brasília, tem como pauta central o direito à terra
De 22 a 26 de abril, povos indígenas de todas as regiões vão ocupar Brasília (DF) nos 20 anos do Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena do país, coordenada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Acompanhe a cobertura pelas redes da Apib: Twitter e Instagram
No centro das discussões, está a defesa do direito à terra, expressa na exigência por demarcações e pelo fim da tese anti-indígena do Marco Temporal.
Há quatro dias, o governo federal anunciou a demarcação de duas Terras Indígenas – Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT). No entanto, apesar das comemorações, o número de demarcações abaixo do esperado - outras quatro eram esperadas, de um total de 251 Terras Indígenas com processos ainda pendentes - gerou frustração no movimento indígena e indigenista. Em abril de 2023, no ATL, o presidente Lula anunciou a demarcação de seis áreas e chegou a prometer acabar com as pendências de reconhecimento desses territórios.
No ritmo atual, seriam necessários mais de 30 anos para concluir os processos. A demarcação das Terras Indígenas é fundamental para garantir a proteção dos povos e de seus territórios, e para conter o desmatamento e as mudanças climáticas.
A bancada ruralista pressiona para que não aconteçam mais demarcações. Um dos instrumentos usados para barrar o direito indígena à terra é a tese do Marco Temporal, derrubada no Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro de 2023, mas que, pouco depois, tornou-se lei, após votação no Senado.
Em janeiro, o Instituto Socioambiental (ISA) entrou com um pedido de amicus curiae (amigo da corte, figura jurídica que apresenta informações e subsídios para o julgamento) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que contesta o Marco Temporal. No processo, o ISA sustenta que, além das inconstitucionalidades formais e materiais, a lei põe em risco as Terras e Reservas Indígenas.
Veja quais são os principais problemas e inconstitucionalidades na Lei do Marco Temporal
O julgamento da tese do Marco temporal no STF teve como base um processo judicial envolvendo o povo Xokleng, vítima da violência estatal desde o século XIX, na busca pela demarcação da Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ (SC).
Confira o especial:
Dos bugreiros à barragem, a saga do povo Laklãnõ-Xokleng por seu território
Ao permitir que a demarcação das Terras Indígenas seja contestada em todas as fases do processo, inviabilizando sua conclusão, e autorizar a instalação de empreendimentos predatórios sem consulta livre, prévia e informada às comunidades, a lei ameaça os direitos indígenas em todo o país.
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Comunicadores e artistas indígenas
Neste ATL, a luta política que percorre as ruas de Brasília também vai ocupar as telas na forma de uma grande serpente, pintada em jenipapo e urucum. Na identidade visual da mobilização, a “Cobra do tempo”, ilustração produzida com o apoio do artista indígena Denilson Baniwa, do Alto Rio Negro (AM), conecta representações de uma resistência ancestral, que atravessou e sobreviveu a conjunturas políticas e governos diversos.
Relembre o começo dessa trajetória
Comunicadores indígenas devem comparecer em peso ao ATL para a cobertura colaborativa de suas associações e organizações. É o caso dos comunicadores da Rede Xingu+ e da Rede Wayuri, do Rio Negro.
Anita Juruna, comunicadora da Rede Xingu+, da Terra Indígena Paquiçamba, no Pará, diz que a “expectativa é ganhar respeito, é ganhar reconhecimento, é que as pessoas não indígenas, principalmente, vejam que estamos aqui há mais de 500 anos, que estamos aqui resistindo e lutando e vamos continuar nessa luta”.
Veja como foi a cobertura dos comunicadores da Rede Xingu+ em 2023
Veja como foi a participação do coletivo no ATL 2022
As histórias e memórias da resistência indígena no ATL serão transmitidas pela Rede Wayuri nas vozes de José Paulo, do povo Piratapuya, Juliana Albuquerque, do povo Baré, e João Arimar, do povo Tariano.
“Será um evento muito importante, onde terá muitas reivindicações, várias lutas… são 20 anos de luta! E por dentro de toda a história, vamos buscar nomes de pessoas que ainda existem e resistem nessa luta. Então, a minha expectativa está a mil para chegar lá e fazer essa colaboração na área da comunicação. É a primeira vez que eu estou indo, estou muito ansioso para conhecer de perto esse grande movimento, em que vamos estar fazendo uma transmissão ao vivo da nossa rádio online”, compartilha José Paulo.
A programação completa para os para os próximos dias está disponível no site da APIB e no instagram da @coiabamazonia. Confira alguns destaques:
Plenárias do ATL
Distribuídas em cinco dias de atividades, as plenárias do ATL 2024 abordarão algumas temáticas como saúde mental, emergência climática, educação escolar indígena, comunicação indígena e políticas afirmativas.
Na sexta-feira (26/04), a plenária do ATL também dará lugar à discussão sobre a reparação histórica e não repetição dos crimes cometidos pela ditadura militar contra os povos indígenas.
Exibição do Filme “Amazônia, a nova Minamata?”
Documentário acompanha a luta do povo Munduruku para conter o avanço do garimpo ilegal em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes da Amazônia. Exibição acontece na segunda-feira (22/04), às 20h, na tenda da Coiab.
Mapeamento das Organizações de Mulheres Indígenas no Brasil
Parceria entre o ISA e a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), a checagem e validação coletiva dos dados referentes à 2ª edição do Mapa das Organizações de Mulheres Indígenas no Brasil acontece na terça-feira (23/4), às 16h, na tenda da Anmiga.
A ação visa dar continuidade à primeira edição do Mapa, de 2020, que registrou 92 organizações de mulheres indígenas em 21 Estados brasileiros.
Marchas do ATL
Previstas para terça-feira (23/04) às 9h e quinta-feira (25/04) às 15h, respectivamente, as marchas “#EmergênciaIndígena: Nossos Direitos não se negociam” e “Nosso marco é ancestral. Sempre estivemos aqui!” conduzirão milhares de pessoas pelas ruas de Brasília (DF), entre indígenas, membros de organizações do terceiro setor e apoiadores da causa socioambiental.
Ato em homenagem a Nega Pataxó
Em janeiro, a pajé Nega Pataxó, do povo Pataxó Hã-Hã-Hã, foi assassinada durante um conflito com a polícia militar e fazendeiros do grupo autointitulado “invasão zero”, na retomada do território Caramuru, em Potiraguá (BA).
A liderança foi mais uma das inúmeras vítimas da violência contra os povos indígenas, que tende a se intensificar com a aprovação do PL do Marco Temporal. Por isso, a homenagem a Nega Pataxó é também um ato de resistência e defesa do futuro dos povos originários.
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Espaço traz galerias de fotos, vídeos e notícias dos principais acontecimentos da luta Yanomami e Ye'kwana
Neste 19 de abril, Dia Nacional dos Povos Indígenas, em que se comemora a diversidade cultural, ancestralidade, preservação da história, luta pelos direitos e resistência contra todas as formas de violência, preconceito e discriminação aos povos indígenas, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) lança o novo site da organização mais representativa do povo Yanomami e Ye’kwana, presidida pelo xamã e liderança política, Davi Kopenawa Yanomami.
Acesse a página: https://hutukarayanomami.org
O novo layout traz sete sessões, onde o público pode encontrar quem são os povos Yanomami e Ye’kwana, quem é a Hutukara e as principais linhas de trabalho, além de mapas com localização do território, delimitação, comunidades, áreas afetadas pelo garimpo e ainda conhecer as lideranças que estão à frente da HAY.
O vice-presidente da HAY, Dário Vitorio Kopenawa, disse que a nova página é uma ferramenta fundamental para dar visibilidade aos trabalhos da associação, que completa 20 anos em novembro deste ano. “Importante para mostrar o trabalho da Hutukara, principalmente para os não indígenas para olhar, conhecer e respeitar. É o fruto do nosso trabalho. Estudantes, autoridades, acadêmicos, pesquisadores vão conhecer as atividades que estamos promovendo, os nossos compromissos e prioridades. Mostrar para a sociedade o trabalho que a Hutukara vem fazendo há muito tempo”, destacou.
Ações de proteção territorial, produtos da floresta e governança institucional estão entre as linhas de trabalho da HAY, disponíveis na nova página eletrônica. Diante da invasão do garimpo, uma das principais ações da Hutukara tem sido a implantação de atividades de proteção ao território. Ano passado jovens Yanomami e Ye’kwana, que vivem nas calhas do Rio Uraricoera, regiões mais afetadas pela mineração ilegal, participaram de oficinas de operadores de drones, com o objetivo de mapear e registrar a presença dos invasores, nessa mesma linha foi instalado o sistema de alerta na Terra Yanomami, que registra e denuncia situações vulneráveis de saúde, ambiental e territorial.
Localizada ao extremo norte do Brasil, na fronteira com a Venezuela, a Terra Indígena Yanomami é a maior do Brasil, com mais de nove milhões de hectares e atualmente com uma população de cerca de 32 mil habitantes, entre os povos Yanomami e Ye’kwana. O diretor-financeiro da HAY, Maurício Ye’kwana, nascido na comunidade Fuduwaaduinha, na região de Auaris, vem atuando na Hutukara desde 2008. “Credibilidade e facilidade nas informações, o site é um grande avanço de um novo momento para a Hutukara. Como representante do povo Ye’kwana, acredito que esse trabalho da comunicação vai facilitar as nossas ações junto a outras associações indígenas, parceiros e apoiadores”.
O site traz galerias de fotos e vídeos dos principais acontecimentos da associação e faz conexões com as redes sociais da Hutukara o Instagram, Facebook e Youtube, que traz as principais notícias e ações cotidianas realizadas.
“A Terra Yanomami completou 30 anos, a Hutukara vai fazer 20 anos esse ano e tudo isso fica e vai ficar registrado no nosso site. Uma rede de comunicação muito grande para colocarmos a nossa história de luta e de conquista, de conhecimento da tradição e cultura, resistência, xamanismo, línguas. Uma conquista não somente nossa, mas de todos os povos indígenas do Brasil”, finaliza Dário Vitorio Kopenawa.
O layout do site é da artista Raquel Uendi, que já realiza trabalhos junto aos povos indígenas e é responsável também pelo site da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).
A Hutukara é o principal parceiro estratégico do Instituto Socioambiental (ISA) em Roraima.
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Liderança da Terra Indígena Las Casa (PA), Tuire esteve à frente da luta contra a construção de hidrelétricas no Xingu
Em 1989, Tuire Kayapó, liderança da Terra Indígena Las Casas (PA), esteve à frente da luta contra a construção de hidrelétricas no Xingu, em especial do projeto da Usina Hidrelétrica Kararaô, que mais tarde se tornou a Usina de Belo Monte.
Foi nesse ano que a liderança Kayapó protagonizou o icônico registro em que brada seu facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes, em um gesto que marcou para sempre a resistência dos povos indígenas.
Hoje, aos 56 anos, a grande guerreira Kayapó luta pela sua vida e enfrenta um câncer no colo do útero, uma doença que representa 7,5% das mortes femininas por cânceres, com estimativa de 311 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Durante toda sua vida Tuire defendeu incansavelmente os direitos da floresta amazônica e de seus povos: “As florestas, os rios, os povos indígenas: é a sobrevivência deles que eu defendo até hoje”, afirmou em entrevista para o #ElasQueLutam.
Para que Tuire Kayapó continue a lutar pelos direitos dos povos da floresta, ela precisa de apoio para enfrentar o câncer.
Convidamos você a fazer parte desse movimento pela vida de Tuire Kayapó! Doe e compartilhe essa campanha
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Dados prévios da nova edição do Mapa das Organizações de Mulheres Indígenas serão apresentados para checagem coletiva durante o Acampamento Terra Livre, em Brasília
Com o objetivo de colocar as organizações de mulheres indígenas no mapa, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) realiza, entre os dias 22 e 26 de abril, uma checagem e validação coletiva dos dados prévios da 2ª edição do Mapa das Organizações de Mulheres Indígenas no Brasil, durante o Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília.
A ação acontece na tenda da Anmiga e durante a plenária "Mulheres Biomas na construção de agendas rumo a COP 30", na terça-feira (23/04), às 16h.
Os dados apresentados são uma continuação da primeira edição do Mapa, de 2020, que registrou 92 organizações em 21 Estados. Por meio de uma nova metodologia, a segunda edição parte de um levantamento colaborativo inédito realizado junto à Anmiga. “A estimativa é que o número de organizações cresça três vezes, demonstrando a força do movimento das mulheres indígenas no país”, aponta Luma Ribeiro Prado, analista no Programa Povos Indígenas no Brasil do ISA.
A ação compõe uma das fases essenciais para consolidação da nova edição do Mapa, que tem previsão de ser lançado em setembro e tem como objetivo ampliar a visibilidade dessas associações e seus territórios de atuação.
O ATL, onde a ação será sediada, chega em sua 20ª edição em 2024. Desde 2016, o evento conta com uma plenária de mulheres, onde indígenas de diferentes povos se articulam para fortalecer a atuação nos territórios. Foi a partir desses encontros que, em 2019, nasceu a I Marcha das Mulheres Indígenas. A Marcha, atualmente, é considerada a maior mobilização de mulheres indígenas do país, e levou mais de oito mil pessoas às ruas de Brasília em 2023.
Articuladora da Marcha das Mulheres Indígenas e parceira na produção do mapa, a Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
O novo mapeamento torna evidente o crescimento e fortalecimento de organizações, associações, coletivos, movimentos, departamentos e secretarias de mulheres indígenas. Em 2023, essas mobilizações foram tema de destaque no livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, do ISA, que, além do encarte temático, também abarcou os resultados encontrados no levantamento realizado para a primeira edição do Mapa, em 2020.
Serviço
O quê? Mapeamento de Organizações de Mulheres Indígenas no ATL 2024
Onde? Tenda da Anmiga no ATL (Complexo Cultural da Funarte, em Brasília)
Quando? 22 a 26 de abril, manhã e tarde
Contato: Mariana Soares (marianasoares@socioambiental.org)
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Documentário centrado em ritual dos Yanomami é inspirado no livro de mesmo nome escrito pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert
“A Queda do Céu”, filme que leva o mesmo nome do livro escrito pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert, foi selecionado para estrear na mostra Quinzaine des Cineàstes – paralela ao Festival de Cannes, na França. A Aruac Filmes, produtora do documentário, fez o anúncio nesta terça-feira (16/04).
Criado em 1946, o Festival de Cannes é um dos mais famosos e prestigiados festivais de cinema do mundo. A 77ª edição está marcada para acontecer de 14 a 25 de maio neste ano. A data para primeira exibição de “A Queda do Céu” ainda deve ser anunciada.
O documentário, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, é centrado na festa Reahu, ritual funerário e a mais importante cerimônia dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento.
“É um filme onde a câmera não olha só para os Yanomami, mas para nós não indígenas também. E isso sempre foi um fundamento do filme tanto para mim quanto para Eryk. Trabalhamos para fazer um filme que expressasse a materialidade onírica de uma relação”, explica Gabriela.
A partir de três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o filme apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri pë, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não- indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.
Lançado em 2010, originalmente em francês, “A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami” reúne reflexões de Davi Kopenawa, contadas ao seu amigo Bruce Albert, sobre o contato de seu povo com os não indígenas desde os anos 1960.
“O filme é um diálogo com o livro homônimo de Davi Kopenawa, xamã Yanomami e um dos maiores líderes indígenas do mundo, e Bruce Albert, antropólogo francês. A obra é considerada por muitos especialistas como uma das mais importantes da contemporaneidade”, explica a Aruac Filmes.
Além da produção da Aruac Filmes, o filme conta com apoio do Instituto Socioambiental (ISA), co-produção da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada de Les Films d'ici.
Sobre os diretores
Eryck Rocha, é natural de Brasília e já disputou a Palma de Ouro de melhor curta-metragem por “Quimera” em 2004. Além disso, recebeu o L'Œil d'or (Olho de Ouro) de melhor documentário no Festival de Cannes por ‘Cinema Novo’ em 2016.
Gabriela Carneiro da Cunha, nasceu no Rio de Janeiro e faz sua estreia em direção de cinema com “A Queda do Céu”. A artista também é atriz e idealizadora do projeto Margens - sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes por meio do qual desenvolveu as peças “Guerrilha” e “Altamira 2042”.
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