Produção explica como funciona o sistema que já emitiu mais de 200 alertas para proteger a Terra Indígena Yanomami
Uma nova animação lançada nesta semana apresenta o funcionamento do Sistema de Alertas Yanomami, ferramenta criada e operada pelas próprias comunidades da Terra Indígena Yanomami para monitorar invasões, denunciar ameaças e proteger a vida em um dos territórios mais pressionados da Amazônia.
Assista!
Desde sua implementação, em setembro de 2023, o sistema já emitiu 211 alertas, sendo mais de dois terços relacionados a invasões garimpeiras. A iniciativa se consolidou como uma resposta direta à crise humanitária e agora ganha força como modelo para outros povos indígenas e territórios ameaçados.
O sistema de alertas é uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com realização da Hutukara Associação Yanomami, Associação Wanasseduume Ye’kwana, Urihi Associação Yanomami e Instituto Socioambiental (ISA).
Narrada por Morzaniel Iramari, cineasta e liderança Yanomami, a produção reforça o papel do sistema como estratégia comunitária: “O Sistema de Alertas Yanomami nos ajuda na proteção do nosso território e da nossa saúde”, ressalta Morzaniel em língua Yanomami.
Idealizado pelas lideranças indígenas, o sistema permite que monitores comunitários enviem alertas via formulário com fotos, vídeos, áudios e localização, inclusive offline. As informações são validadas, organizadas em um painel público e encaminhadas a autoridades e parceiros. A ferramenta está disponível em quatro idiomas (Yanomami, Ye’kwana, Sanoma e português).
Animação foi dirigida e animada por João Maia, com produção da Cama Leão e do ISA. Abaixo, imagem de Angela Yanomami feita por Victor Moriyama/ISA:


“Entregamos muitas informações para as autoridades. O projeto do Sistema de Alertas é muito produtivo e dá resultados muito bons. Usamos principalmente para denunciar invasores na Terra Indígena Yanomami durante a crise humanitária, e também problemas da saúde”, comentou Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.
Em apenas seis meses de 2025, foram registrados 40 novos alertas, 77% deles sobre invasões. Também há registros de surtos de malária, abandono de postos de saúde, falta de medicamentos e doenças respiratórias, reforçando que o sistema também é uma estratégia vital de cuidado e saúde coletiva.
O vídeo foi apresentado pela primeira vez para os Yanomami em uma oficina realizada na comunidade Xihopi, no Demini, na segunda quinzena de maio.
“A animação tem um papel importante de sensibilização e contextualização para as comunidades onde fazemos as oficinas. A animação ajuda a comunicar com a comunidade e faz ela entender melhor o que estamos fazendo”, explicou Estêvão Senra, geógrafo no ISA que participou da criação do sistema de alertas.
Da ferramenta ao vídeo de animação
A ferramenta foi implementada em setembro de 2023. Desde então, 211 formulários foram preenchidos e encaminhados aos órgãos públicos competentes. Cerca de 67,2% são alertas territoriais, geralmente ligados a invasões ao território. Os alertas relacionados à saúde chegam a 21,8% e os ambientais somam 10,9%.
“Os alertas principais continuam sendo de invasões, oriundos das regiões onde ainda há movimentação de garimpeiros ilegais, como os rios Apiaú e Uraricoera”, contou Estêvão Senra.
Na última oficina, estiveram envolvidos 21 indígenas, representantes de 11 comunidades da calha do Rio Demeni. Estevão Senra e Lídia Montanha, representantes do ISA, ministraram a oficina junto a Ícaro Lavoisier, do UNICEF), e o consultor Corrado Dalmonego.
A chefe de escritório do UNICEF em Roraima, Tâmara Simão, destacou que a proposta do vídeo também é comunicar aos órgãos públicos, e eventuais parceiros, sobre o projeto, incentivando o engajamento das instituições na iniciativa, visando estimular a cooperação entre os agentes que estão no território.
“É importante que o poder público esteja engajado e atuante junto ao Sistema de Alertas, que se mostrou uma ferramenta essencial para a proteção de meninas e meninos que estão em território. Através dos formulários, o instrumento permite que a própria comunidade leve suas prioridades e especificidades diretamente aos órgãos necessários para atuação", pontuou.
Uma versão resumida, com pouco mais de um minuto de duração, também está disponível no Instagram, TikTok e LinkedIn. As duas versões são narradas por Morzaniel em Yanomami e contam com legendas em português, espanhol e inglês.
Como é o Sistema de Alertas na prática?
Por meio de um formulário, os monitores das comunidades podem anexar fotos, vídeos, áudios, pontos de localização com coordenadas geográficas e relatos. Os envios podem ser feitos offline e incluídos nos dispositivos quando tiver conexão. A fim de garantir o acesso, a ferramenta disponibiliza as opções de idioma em Yanomami, Ye’kwana, Sanoma e Português.
O funcionamento é simples: uma vez que o sistema recebe a denúncia, operadores do sistema qualificam as informações para validar os relatos, que em seguida ficarão expostos em um painel virtual e público para que autoridades, instituições parceiras e a imprensa possam ter ciência de qualquer anormalidade que ameace o território.
Este projeto é uma iniciativa UNICEF, com realização da Hutukara Associação Yanomami, Associação Wanasseduume Ye’kwana, Urihi Associação Yanomami e Instituto Socioambiental. Conta com financiamento da União Europeia, através do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO, na sigla em inglês), apoio do Ministério dos Povos Indígenas, e tem o objetivo de aumentar a resiliência e fortalecer a autonomia das comunidades com a integração de um sistema que respeite o contexto e o conhecimento das comunidades indígenas.
Ficha técnica
Realização: Hutukara Associação Yanomami, Associação Wanassedume Ye'kwana (SEDUUME), Urihi Associação Yanomami, Instituto Socioambiental (ISA), UNICEF
Apoio estratégico: União Europeia
Apoio institucional: Ministério dos Povos Indígenas
Produção: Cama Leão e Instituto Socioambiental (ISA)
Direção e Animação: João Maia
Produção Executiva: Maica Alves
Coordenação: Natalia Rodrigues
Roteiro: Ana Paula Anderson
Direção de Arte: Mariana Abasolo
Tradução e Locução: Morzaniel Iramari
Captação de locução: Estúdio Parixara (Roraima), Tatiane Vesch e Erik Vesch (São Paulo)