"Devastamos mais da metade do nosso País pensando que era preciso deixar a natureza para entrar na história: mas eis que esta última, com sua costumeira predileção pela ironia, exige-nos agora como passaporte justamente a natureza".
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos motes da fundação do ISA em 1994.
O ISA trabalha em parceria com povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para elaborar soluções inovadoras para os desafios enfrentados por estas comunidades e povos. Nossas iniciativas apoiam e promovem a defesa de direitos, gestão e proteção territorial, economias do cuidado, processos formativos, restauração ecológica inclusiva e produtiva. Elas são baseadas em processos de experimentações e trocas de saberes transparentes, equitativas e de longo prazo com nossos parceiros, que tem como base a valorização dos modos de vida destas populações e a garantia de seus direitos.
Nossa abordagem de atuação coloca a potência dos saberes tradicionais em diálogo com práticas legais, acadêmicas e de mercado. A inovação, produzida a partir dessa interação entre diferentes mundos, pensamentos e linguagens, oferece caminhos para o reconhecimento pela sociedade brasileira - e mundial -, que são estes povos que cuidam e protegem as florestas que prestam os serviços socioambientais para a própria sobrevivência do planeta e cada um de nós.
Há diversas outras iniciativas que apontam para soluções originais para os desafios enfrentados pelas populações indígenas e tradicionais para garantir o direito à terra, o bem-viver, a preservação de suas florestas e modos de vida, intrinsecamente interdependentes. A formação de jovens comunicadores indígenas, por exemplo, capacita tecnicamente a juventude dos territórios do Xingu e do Rio Negro em dominar a tecnologia para contar suas próprias histórias, defender seus direitos e se conectar com a cultura de seus de seus antepassados. Conheça abaixo outros exemplos de soluções desenvolvidas pelo ISA e seus parceiros locais e nacionais:
Copiô, Parente, o primeiro podcast feito no Brasil para os povos da floresta
Xingu Solar, projeto de promoção de energia fotovoltaica no Xingu
Webinário promovido pelo FNEEI, Anmiga e ISA debate a importância dos saberes indígenas nas salas de aula
Evento debate o edital Aldear a Educação Básica, iniciativa que busca premiar práticas pedagógicas, dentro e fora da escola, que fortaleçam a Lei nº 11.645
No dia 10/09, às 19h, acontece o webinário “Aldear a Educação Básica: saberes indígenas no fortalecimento da Lei nº 11.645”. O evento, promovido pelo Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei), a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e o Instituto Socioambiental (ISA), será transmitido ao vivo no canal do Fneei no Youtube.
O evento contará com a participação de Chirley Pankará, assessora política da Anmiga, pedagoga, mestra em Educação e doutora em antropologia social; Joziléia Kaingang, doutora em antropologia e diretora-executiva da Anmiga; e Rita Potyguara, pedagoga, doutora em Educação, diretora da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso BR) e coordenadora-executiva do Fneei. A mediação ficará a cargo de Martinha Guajajara, professora-gestora da Escola Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe'ē Ja, em Maricá (RJ), doutoranda em Educação pela UFF e coordenadora-executiva do Fneei.
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Chirley Pankará, Joziléia Kaingang e Rita Potyguara debatem a implementação da Lei nº 11.645|Claudio Tavares/ISA - Maria Carolina Botinhon/ISA - Arquivo pessoal
O encontro tem como objetivo promover um diálogo aprofundado sobre o ensino de histórias, saberes e culturas indígenas na educação básica brasileira, visando a efetivação da Lei nº 11.645/2008 que estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas do País.
Além de debater o estado da arte da implementação da normativa, o webinário também visa ampliar a discussão pública e estimular a criação de propostas para o edital “Aldear a Educação Básica”. Lançado em 1º de setembro, a iniciativa capitaneada pelo FNEEI e pelo ISA irá premiar e reconhecer ações pedagógicas realizadas no ambiente escolar que contribuam para o fortalecimento da referida lei.
Ambas as iniciativas estão alinhadas a uma série de ações que visam a valorização da sociodiversidade indígena e a plena efetivação da lei, como o levantamento sobre o papel dos professores indígenas na aplicação da normativa, e da nota técnica “Lei 11.645/08: Ensino de História e Cultura Indígena”, lançada em dezembro de 2024.
Sobre o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei)
O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei) é um espaço de diálogo e articulação entre lideranças indígenas, educadores e o Estado, em defesa de uma educação escolar indígena específica, diferenciada e intercultural. Criado em 2015, o Fórum atua na promoção de políticas públicas que valorizem os saberes tradicionais, as línguas e os territórios indígenas, conforme previsto na Constituição e no Plano Nacional de Educação, reafirmando seu papel de resistência frente aos retrocessos nos direitos dos povos indígenas.
Sobre a Anmiga
A Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
Serviço
Webinário “Aldear a Educação Básica: saberes indígenas no fortalecimento da Lei 11.645”
10 de setembro de 2025, às 19h (horário de Brasília)
Participantes: Chirley Pankará, Jozileia Kaingang e Rita Potyguara, com mediação de Martinha Guajajara
Transmissão pelo canal do YouTube do Fneei
Contato para a imprensa: Mariana Soares - marianasoares@socioambiental.org
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Edital Aldear a Educação Básica premia boas práticas no ensino de histórias, culturas e saberes indígenas
Com inscrições abertas até o dia 1 de outubro, a iniciativa visa reconhecer e divulgar ações pedagógicas que fortaleçam a efetivação da Lei 11.645/08; candidatos concorrem a R$ 2 mil
Para fazer valer a Lei nº 11.645/08, que tornou obrigatório o ensino das histórias e culturas indígenas e afro-brasileira nas escolas, o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei), o Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com o Instituto Alana, lançam hoje (01/09) o edital Aldear a Educação Básica: Fortalecendo a Lei 11.645/08, por mais histórias, culturas e saberes indígenas nas salas de aula no Brasil.
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O objetivo é reconhecer e divulgar experiências educativas no ensino de histórias, culturas e saberes indígenas nas salas de aula brasileiras, como forma de valorizar a sociodiversidade indígena, combater o racismo contra povos indígenas, reconhecer a importância dos conhecimentos dos povos indígenas para o enfrentamento da crise climática e evidenciar histórias indígenas milenares até as mais recentes que têm lugar no território atualmente reconhecido como Brasil. As ações pedagógicas selecionadas serão disponibilizadas gratuitamente no site Mirim.org, tornando-se referência em escolas de todo o Brasil.
“O edital é estratégico porque reconhece práticas já existentes, mas também funciona como um chamado à responsabilidade do Estado, da sociedade, das instituições de ensino e dos profissionais da educação para a efetivação real da Lei, que é fruto da luta histórica pelo reconhecimento dos saberes dos nossos povos. Ele atua como uma quebra do racismo da ausência, como afirma a deputada Célia Xakriabá, mostrando que o silêncio e a omissão também são racismo. É um convite à mudança de olhar — não genérico — sobre nossos corpos e povos, para não nos colocarem em caixinhas do folclore e para ensinar crianças, jovens e adultos que, antes da colonização, já estávamos aqui e somos construtores dessa invenção chamada Brasil”, afirma a professora-gestora da Escola Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe'ē Ja, em Maricá (RJ), e coordenadora-executiva do Fneei Martinha Mendonça, do povo Guajajara.
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Martinha Mendonça, do povo Guajajara, é professora-gestora da Escola Municipal Indígena Guarani Para Poty Nhe'ē Ja, em Maricá (RJ)|Arquivo pessoal
“Quando a gente considera um Brasil que é racista estruturalmente, pensar em práticas como essas que atravessam a escola é uma forma de resistência. Nesse sentido, o edital pode potencializar as resistências que a escola produz diante de um país que nos nega”, defende.
Cada candidato poderá apresentar quantas propostas quiser, mas apenas uma poderá ser premiada por pessoa. As selecionadas integrarão a um repositório de boas práticas que estará disponível no site mirim.org. Além disso, as 10 mais criativas e com maior potencial de impacto na comunidade escolar receberão um certificado de reconhecimento e R$2 mil reais em um vale-presente.
A iniciativa é destinada a professores indígenas e não indígenas da educação básica, incluindo Educação de Jovens e Adultos (EJA) e educação profissional técnica de nível médio.
As práticas devem abordar temas como saberes indígenas no enfrentamento da crise climática; tecnologias indígenas e educação alimentar; histórias indígenas; violações de direitos dos povos indígenas; artes e expressões indígenas contemporâneas; línguas, literaturas e oralidades indígenas; racismo ambiental; saúde e bem-viver; enfrentamento ao racismo; sociodiversidade indígena, interculturalidade e respeito às diferenças.
Para garantir a representatividade, 50% das atividades premiadas serão de autoria de professores(as) indígenas. Segundo Martinha Mendonça Guajajara, essa é uma política muito importante, mas recente nos editais e concursos. “Somos nós aqueles que sabemos falar melhor sobre os nossos povos. Então, nossas práticas podem contribuir com outras, em um diálogo intercultural que pode potencializar esse lugar”, explica.
As propostas serão avaliadas com base em critérios como impacto, adequação ao tema, criatividade e abordagem intercultural e interdisciplinar. Serão desclassificados trabalhos com conteúdo discriminatório ou em desacordo com os direitos humanos.
As inscrições estão abertas até o dia 1 de outubro de 2025 e os resultados serão divulgados em dezembro de 2025.
Para participar, os interessados devem acessar o regulamento do edital e enviar suas propostas de atividades via formulário.
Professores indígenas na linha de frente para plena efetivação da Lei nº 11.645/08
Sancionada em 2008, a Lei nº 11.645 foi proposta como forma de expandir a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira, disposta na Lei nº 10.639/2003, ao ensino de História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira. Ambas as normativas alteram o artigo 26-A da Lei nº 9394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A mudança veio como resposta às demandas do movimento indígena e para valorizar e reconhecer as contribuições histórico-culturais, econômicas, sociais e ambientais dos povos indígenas.
A atuação de professores indígenas tem sido essencial para ampliar a efetivação da Lei que dentre as normativas que deveriam ter sido instituídas para orientar sua implementação, até o momento teve apenas o parecer nº 9 publicado pela Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2015.
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Integrantes da Fneei pedem reconhecimento das histórias, saeres e territórios indígenas nos currículos escolares|Oziel Ticuna/Fneei
É o caso da professora Marize Vieira de Oliveira, do povo Guarani, que atua em uma escola regular no Rio de Janeiro (RJ). Uma das professoras alcançadas pelo levantamento feito pelo ISA em parceria com o Fneei e o Instituto Alana, ela conta que começou a dar oficinas para aplicação da Lei ao perceber como a Educação Escolar é eurocêntrica e invisibiliza pessoas indígenas. “A grande maioria diz não saber onde procurar e como fazer. Saem das universidades sem nunca ter tido aulas sobre história e cultura indígena. Nos livros didáticos, nos congelam no século XVI e quando aparecemos, é só nas aldeias e de cocar”, relatou.
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Rose Sateré-Mawé, uma das idealizadoras da iniciativa, é doutoranda em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB)|Arquivo Pessoal
A professora Rose Sateré-Mawé, secretária-executiva do Fneei, também lidou com um contexto parecido. Sua motivação para fazer formações com professores não indígenas, no entanto, veio de uma situação de racismo vivenciada por seu sobrinho numa escola pública em Brasília. “Ao acompanhar o caso, dialoguei com a diretora e os professores e percebi que havia uma grande dificuldade da equipe em lidar com a diversidade. Como resposta ao episódio, a escola chegou a sugerir a transferência do meu sobrinho para outra unidade que atendesse alunos indígenas”, conta.
Diante desta situação, Rose Sateré-Mawé propôs uma formação sobre a Lei ao corpo docente abordando aspectos como demografia indígena atual, línguas, modos de vida, lutas históricas, ciências e saberes indígenas, e suas contribuições para a sociedade brasileira em diversas áreas. Como resultado, ela relata que a escola passou a adotar uma nova postura nas práticas pedagógicas e no ambiente escolar, o que refletiu em um ambiente mais acolhedor tanto para seu sobrinho, quanto para outros estudantes indígenas e negros.
É para que iniciativas como estas se multipliquem que o edital Aldear a Educação Básica foi idealizado, explica Martinha Mendonça Guajajara. “O edital é uma retomada política. Ele é fundamental para enfrentar o racismo da ausência, rompendo com a tentativa de invisibilizar nossos povos, nossas culturas e nossos conhecimentos, e para fortalecer práticas que reconhecem essa presença viva na escola e entre professores, sejam indígenas ou não. Sendo o currículo não apenas o que está prescrito em documentos, mas aquilo que se faz no cotidiano da escola. É esse cotidiano que queremos revelar e transformar através da Lei 11.645/08 e deste edital", afirma.
O edital vem na sequência de uma série de ações realizadas por Fneei, ISA e Instituto Alana para a promoção da Lei nº 11.645/08, como o levantamento lançado em abril sobre o papel dos professores indígenas na aplicação da normativa, e da nota técnica “Lei 11.645/08: Ensino de História e Cultura Indígena”, lançada em dezembro de 2024, durante o Encontro Nacional de Educação Escolar Indígena, em Brasília.
Sobre o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei)
O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei) é um espaço de diálogo e articulação entre lideranças indígenas, educadores e o Estado, em defesa de uma educação escolar indígena específica, diferenciada e intercultural. Criado em 2015, o Fórum atua na promoção de políticas públicas que valorizem os saberes tradicionais, as línguas e os territórios indígenas, conforme previsto na Constituição e no Plano Nacional de Educação, reafirmando seu papel de resistência frente aos retrocessos nos direitos dos povos indígenas.
Sobre o Instituto Socioambiental
Com o lema “socioambiental se escreve junto”, em 1994 foi fundado o Instituto Socioambiental (ISA). Desde então, atuamos lado a lado com parceiros históricos de comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas para desenvolver soluções que protejam seus territórios, fortaleçam suas culturas e saberes tradicionais, elevem seu perfil político, e desenvolvam economias sustentáveis. Com Programas e escritórios dentro dos territórios, o ISA fincou suas raízes em três bacias hidrográficas: Rio Negro (AM/RR), Xingu (MT/PA) e Ribeira de Iguape (SP). E, em parceria com associações locais, organizações não governamentais, e redes regionais e nacionais, articula projetos através dos Programas de Política e Direito Socioambiental e Povos Indígenas no Brasil, bem como dos Temas de Restauração Ecológica, Economias da Sociobiodiversidade e Clima - uma relação de duas vias que nomeamos “raiz-antena”. Nossa missão é defender a pluralidade socioambiental brasileira, seja no chão da floresta ou nos corredores de Brasília.
Sobre o Alana
O Alana é um ecossistema de organizações de impacto socioambiental que promove e inspira um mundo melhor para as crianças. Um mundo sustentável, justo, inclusivo, igualitário e plural. Um mundo que celebra e protege a democracia, a justiça social, os direitos humanos e das crianças com prioridade absoluta. Um mundo que cuida dos seus povos, de suas florestas, dos seus mares, do seu ar. O Alana é um ecossistema de organizações interligadas, interdependentes, de atuação convergente, orientadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O encontro de um Instituto, uma Fundação e um Núcleo de Negócios de Entretenimento de Impacto. Um combinado único de educação, ciência, entretenimento e advocacy que mistura sonho e realidade, pesquisa e cultura pop, justiça e desenvolvimento, articulação e diálogo, incidência política e histórias bem contadas.
Sobre a Anmiga
A Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
Realização: Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (Fneei) e Instituto Socioambiental (ISA) Parceria técnica: Instituto Alana Apoio: Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) Contato para imprensa: Mariana Soares - marianasoares@socioambiental.org / (51) 98155-0144 Dúvidas de segunda-feira a sexta-feira, entre 10h e 17h:aldear@socioambiental.org e WhatsApp (61) 8155-0144
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Tecendo saberes e arte: catálogo apresenta cestaria Yanomami
“Arte Yanomami” apresenta saberes dos cestos tradicionais, fortalecendo mulheres, cultura, arte, cosmovisão e territórios
O trançado da cestaria Yanomami tem início com caminhadas na terra-floresta, a urihi a, para a coleta dos cipós e do Përisi, uma espécie de fungo retirado cuidadosamente pelas mulheres. Depois de prontas, as peças únicas guardam uma herança do saber ancestral passado entre as gerações. E podem chegar à sua casa!
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Luiza Lima Góes Yanomami carrega dois cestos Motorohima, feitos por ela na comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami|Roberto Almeida/ISA
Cultura, arte e cosmovisão Yanomami presentes nas cestarias são apresentadas no Catálogo Arte Yanomami, uma produção realizada em parceria pela Hutukara Associação Yanomami e pelo Instituto Socioambiental (ISA) e que teve lançamento nesta quinta-feira (28/08).
No catálogo, estão descritos os nomes dos cestos, seus formatos e dimensões, o que torna mais ágil o diálogo para a comercialização justa e ética.
Com o novo guia, é possível saber, por exemplo, que o Xotehe é um cesto raso trançado pelas mulheres Yanomami utilizando cipó titica com fios de fungo negro (o Përisi) ou tiras de raízes pretas da palmeira paxiubinha. Quando o trançado tem ponto fechado, é utilizado para acondicionar alimentos. Mas se a trama é aberta, tradicionalmente é usado na pesca.
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Detalhe do cesto xotehe, feito de cipó titica por mulheres Yanomami|Amanda Latosinski / ISA
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Confecção de cestaria Yanomami com tiras de cipó titica e fios de fungo negro|Amanda Latosinski/ISA
E é possível entender que alguns dos cestos, os mais alongados, utilizados para viagens na mata ou para guardar alimentos, são trançados apenas por mulheres. Um saber repassado de geração para geração. Outros, que servem como utensílios de cozinha, em formato tubular ou de peneira, são produzidos por homens do grupo Sanöma.
A comercialização das peças de arte yanomami é uma forma de valorizar o trabalho desenvolvido principalmente pelas mulheres desse povo, além de fortalecer o território, a cultura e os saberes ancestrais Yanomami.
Para os Yanomami, a cestaria é usada no dia a dia. Mas a arte indígena pode receber outros usos, como fruteiras, revisteiros e adornos nas paredes.
No trançado aparecem o cipó – cru ou pintado de vermelho com urucum – e o Përisi. Na cosmologia Yanomami, os fios do Përisi são os pelos pubianos do espírito da floresta. Por isso, as mulheres fazem a coleta com todo o cuidado e, ainda, contam com o diálogo de xamãs para a retirada.
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Cesto Wiia é o recipiente onde as mulheres levam os produtos da coleta e da roça e carregam a lenha para cozinhar e aquecer a casa coletiva|Edson Sato
Mas o fio negro usado na trama da cestaria é também uma nova espécie de fungo (Marasmius yanomami) descoberta através de uma pesquisa intercultural envolvendo pesquisadoras indígenas e não indígenas e que está relatada no livroPërɨsɨ: o fungo que as mulheres yanomami usam na cestaria, uma publicação da Associação de Mulheres Yanomami Kumirãyõma e ISA. Contado pelas mulheres, o livro explica, em Yanomami e português, como o fungo é coletado e usado.
Os cestos Yanomami são produzidos nas comunidades, no centro da floresta Amazônica. Após confeccionados, são encaminhados pelas lideranças comunitárias para a Hutukara Associação Yanomami, que se responsabiliza pelo armazenamento, cuidado e venda das peças.
Todo o recurso arrecadado com as vendas das cestarias é revertido nas compras de matihipë - objetos diversos - solicitados pelas comunidades.
A Hutukara Associação Yanomami (HAY) é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2004 pelo xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami. Sua missão é representar os povos Yanomami e Ye’kwana que vivem na Terra Indígena Yanomami, nos estados brasileiros de Roraima e Amazonas, sobretudo consolidando o protagonismo indígena para defender os direitos territoriais e atuando na mediação e no acompanhamento da implementação de políticas públicas que contribuam para o bem viver das comunidades.
Em parceria com o ISA, a Hutukara desenvolve projetos que fortalecem as economias da sociobiodiversidade, a cultura e os saberes por meio de produtos da floresta, como cestarias, cogumelos, castanhas e cacau. Esses projetos envolvem 78 comunidades e cerca de 900 indígenas.
Conheça alguns cestos:
Wiia é um cesto alongado de ponto fechado e com fundo arredondado. É trançado por mulheres Yanomami e feito de cipó titica com detalhes de fios de fungo negro (o Përisi) ou com pinturas de tintas naturais. Wiia é o recipiente onde as mulheres levam os produtos da coleta e da roça e carregam a lenha para cozinhar e aquecer a casa coletiva durante a noite.
Xotehe é um cesto raso trançado de cipó titica com fios de fungo negro (o Përisi) ou tiras de raízes pretas da palmeira paxiubinha. Feito pelas mulheres Yanomami, pode ter o trançado com ponto fechado, utilizado para acondicionar alimentos, ou de trama de aberta, tradicionalmente utilizado na pesca.
Tipiti é um cesto tubular, uma espécie de prensa, confeccionado por homens Yanomami do grupo Sanöma. É trançado com fibras de arumã, de cor crua, e fibras tingidas com tintas naturais. É utilizado pelas mulheres para espremer o suco venenoso da mandioca brava. O líquido pode ser aproveitado para fazer o tucupi. Já a massa que resulta da extração, após a secagem é transformada em farinha ou beiju.
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Tipiti preto feito por homens Yanomami com grafismos tipicamente Ye'kuana. Pronto, ele é utilizado pelas mulheres na cozinha|Yareidy Rivas/ISA
Sotea ose é um cesto de bordas baixas, uma espécie de peneira, confeccionado por homens Yanomami do grupo Sanöma. É trançado com fibras de arumã, em cor crua, e fibras tingidas com tintas naturais. Utensílio de cozinha, serve como travessa para apoiar frutas e outros alimentos, recolher a massa de mandioca, guardar e servir o beiju, que é comido coletivamente em família.
Para adquirir a sua cestaria Yanomami, entre em contato por meio dos seguintes canais de venda:
O I Encontro Nacional de Comunicação Indígena (ENCI) será realizado em Belém de 28 a 31 de agosto, reunindo 100 comunicadores de povos indígenas de todos os biomas do Brasil na Casa Maraká (Avenida Nazaré, 630). Mais do que um evento de formação, o encontro é uma preparação estratégica para a COP30, propondo um plano de comunicação indígena que seguirá atuante durante a conferência e também depois dela.
O evento é realizado pela Mídia Indígena e pelo Ministério dos Povos Indígenas, com participação exclusiva de pessoas previamente inscritas em um mapeamento de comunicadores feito pelas redes sociais.
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Comunicador Arewana Juruna durante o II Encontro do Redário, em 2023|Webert da Cruz Elias/Redário/ISA
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Kujaesage Kaiabi, comunicadora da Rede Xingu+ na cobertura do IV Encontro das Redes do Redário|Yamony Yawalapiti/ISA
Seu objetivo é consolidar uma rede de comunicadores indígenas capaz de dar visibilidade, de forma autônoma, às lutas e conquistas dos povos originários, mantendo sempre o diálogo com a sociedade.
“Esse encontro representa a força coletiva dos povos indígenas na construção de suas próprias narrativas. É um espaço para fortalecer nossa voz, pensar estratégias conjuntas e afirmar que comunicação também é território de luta e de resistência”, afirma Fly Tentehar, integrante da Mídia Indígena e um dos organizadores do ENCI.
Nomes de destaque na programação
A programação reúne nomes de referência no campo da comunicação e da cultura indígena, como Sônia Guajajara (Ministra dos Povos Indígenas), Sineia Wapichana (Enviada Especial da COP 30), Célia Xakriabá (Deputada Federal), Kleber Karipuna (Coordenador Executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e comunicadores do Coletivo Mídia Indígena, que compartilham experiências de incidência em grandes eventos nacionais e internacionais.
Também participam jornalistas, cineastas e pesquisadores que têm se dedicado a dar visibilidade às lutas dos povos originários, compondo um mosaico diverso de olhares e experiências que fazem deste encontro um marco histórico.
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Khátkhrytxi Khisêtjê registra a festa comemorativa dos 20 anos da demarcação da TI Wawi, no Xingu, Mato Grosso|Christian Braga/ISA
A Casa Maraká
O evento será sediado na Casa Maraká, localizada na Avenida Nazaré, 630, em Belém, novo espaço de mobilização que nasce como referência para a comunicação indígena e terá programação permanente até a COP30. A Casa tem como madrinha a cantora Anitta, que apoia a iniciativa por reconhecer na comunicação indígena um instrumento poderoso de transformação social e ambiental.
Mais do que um espaço físico, a Casa Maraká vem para simbolizar a continuidade do trabalho de articulação iniciado pelo Coletivo Mídia Indígena e parceiros, abrigando encontros, oficinas e produções voltadas para o fortalecimento das narrativas indígenas.
Eixos de discussão
A programação do encontro está organizada em cinco eixos centrais:
- memória e identidade da comunicação indígena
- formação política e técnica de comunicadores
- articulação de uma rede nacional
- estratégias de comunicação para a COP30
- criação de campanhas de impacto e diálogo com a sociedade
Painéis e talk shows trarão lideranças, jornalistas e especialistas para debater temas como origem da comunicação indígena, participação dos povos originários em espaços de poder, regulamentação das redes sociais, uso de inteligência artificial e estratégias de incidência climática. Oficinas práticas de produção audiovisual, entrevistas e preservação de acervos fortalecem a capacitação dos participantes.
Plano de Cobertura para a COP30
Um dos pontos altos do encontro será a construção coletiva do plano de cobertura colaborativa da COP30, que definirá estratégias de produção, logística, conteúdos e linguagens para garantir que as vozes indígenas sejam protagonistas no debate climático global.
“Estamos construindo um plano que vai muito além de registrar a COP30. Queremos que ele seja uma ferramenta de incidência, capaz de ecoar nossas vozes dentro e fora das salas de negociação. É garantir que, quando o mundo olhar para Belém, veja também os rostos, as histórias e os saberes dos povos indígenas como protagonistas na luta climática”, afirma Tipuici Monoki, da Terra Indígena Irantxe, no Mato Grosso.
Celebração e cultura
O encontro também celebra os 10 anos da Mídia Indígena, referência nacional na articulação de comunicadores indígenas. O próximo passo para organização é a consolidação da Rede Nacional de Comunicação Indígena, como explica Japupromti Parkatêjê: “É um passo fundamental para nossa história. Representa a continuidade de uma luta iniciada há décadas, mas que ganha novas dimensões ao unir jovens comunicadores e lideranças de diferentes povos em torno de um mesmo propósito”, finaliza.
Confira a programação completa
28 de agosto
09h00 – 09h30 – Ritual de Abertura, Acordos Coletivos e Orientações Gerais
09h30 – 10h30 – Abertura
Participação: Erisvan Guajajara, Priscila Tapajowara, Giovana Mandulão, Puyr Tembé, Oe Kayapó
10h30 – 12h00 – Talkshow: A Origem da Comunicação Indígena
Mediação: Tukumã Pataxó
Participação: Ykaruni Nawa, Daiara Tukano
14h00 – 15h30 – Análise de Conjuntura: Comunicação Popular e a Sociedade Brasileira
Mediação: Ariene Wapichana
Participação: Pablo Capilé, Charles Trocate, Ingred Sateré Mawé, André Wilkson, Kleber Karipuna
16h00 – 18h00 – Oficinas simultâneas
- Produção de Conteúdo para Redes – Cristian Wariu
- Memória e Arquivo Audiovisual – Inês Aisengart
- Técnicas de Entrevista – Helena Balatiponé
29 de agosto
09h00 – 10h30 – Como Comunicar os Três Poderes?
Mediação: Samela Sateré Mawé
Participação: Samara Pataxó, Juliana Kanindé, Osvaldo Braga, Danicley Aguiar, Bruno Taitson
10h40 – 12h00 – Discussão em grupos
14h00 – 15h00 – Talkshow: Estrutura da Comunicação Brasileira e a Regulamentação das Redes Sociais
Participação: Helena Martins
Noite – Exibição do filme Mundurukuyü – A floresta das mulheres peixe
Bate-papo com a diretora Beka Munduruku
30 de agosto
09h00 – 10h30 – Talkshow: O que é a COP? Desmistificando a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas
Mediação: Natalia Mapua
Participação: Gasparini Kaingang, Eric Terena, Mayra Lima
14h00 – 15h00 – Comunicação e a COP 30
Mediação: Zé na Rede
Participação: Cleinton Nobre, Jean Ferreira, Lucia Ixchui, Olo Villalaz
15h00 – 17h00 – Planejamento de Cobertura da COP 30
17h00 – 18h00 – Apresentação do Plano de Comunicação para Cobertura e Ações na COP 30
19h00 – Exibição do filme Yanuni
31 de agosto
09h00 – 10h00 – Estratégias para Conversar com a Sociedade
Mediação: Erisvan Guajajara
Participação: Célia Xakriabá, Hony Sobrinho
10h00 – 12h00 – Campanhas e Impactos – Luciana Weyne e Bia Calza
14h00 – 16h00 – Laboratório Livre de Criação de Campanhas e Definições de Narrativas
16h00 – 17h00 – Encaminhamentos Finais do Encontro Nacional de Comunicação Indígena
20h00 – Coquetel “10 anos da Mídia Indígena – Rumo à COP 30”
Serviço Encontro Nacional de Comunicação Indígena (ENCI) Data: 28 a 31 de agosto de 2025 Local: Casa Maraká – Avenida Nazaré, 630 Mais informações e atualizações:https://www.instagram.com/midiaindigenaoficial/
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Mulheres Waurá levam cerâmica ancestral do Xingu a SP, tradição ameaçada pela crise climática
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Yakakumalu Waurá faz panelas para cozinhar caldo de mandioca na aldeia Piyulaga. São necessários três homens para carregar uma panela|Piratá Waurá
Guardado e transmitido há mais de mil anos pelas mulheres, o conhecimento ceramista dos Waurá ou Wauja , povo que vive no Alto e no Médio Xingu, será apresentado em uma série de encontros, oficinas e rodas de conversa em museus e centros culturais da capital paulista.
A agenda começa em 30 de agosto no Museu das Culturas Indígenas (MCI), com a contação de histórias, segue em 2 de setembro no espaço Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA), com a conversa “COP30: Mudanças climáticas e o impacto na identidade xinguana”, continua no Sesc Consolação nos dias 4 e 5 de setembro com oficinas de cerâmica e se encerra em 6 de setembro no Museu A Casa do Objeto Brasileiro, com um bate papo e uma oficina de grafismo em cerâmica.
Confira a programação completa ao final
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Além de panelas, itens decorativos e cuias fazem parte da produção das mulheres xinguanas|Cláudio Tavares/ISA
Crise climática
A cerâmica Wauja é reconhecida pela beleza, precisão técnica e forte ligação com o território, os ciclos da natureza e os rituais xinguanos. Porém, as mudanças climáticas vêm comprometendo sua continuidade.
Um dos maiores desafios é a escassez do cauxi – coral retirado do fundo dos rios e essencial para dar liga ao barro e evitar rachaduras nas peças. As secas prolongadas e as cheias cada vez mais curtas e irregulares reduziram drasticamente a disponibilidade desse recurso.
Além disso, o processo artesanal, que envolve coleta de barro, queima em madeira específica (jatobá) e pintura com grafismos tradicionais, também sofre com os impactos ambientais. Sem esses insumos, fica em risco não apenas a produção, mas a autonomia econômica das mulheres e a transmissão cultural para as novas gerações.
Esse cenário reforça a urgência dos debates da COP30, que será realizada em Belém no fim do ano, trazendo à tona a importância da justiça climática e da valorização dos saberes tradicionais como parte da solução para a crise global.
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Meixulã Waurá segura cerâmica durante a EXPOTIX, Exposição de Produtos do Território Indígena do Xingu|Tairu Kayabi Juruna/Rede Xingu+
Programação completa
No dia 30/08, as ceramistas visitam o Museu das Culturas Indígenas para uma sessão de contação de histórias gratuita, mediante retirada de ingressos. Nesta edição, o público conhecerá Kamalu-hái, figura central na cosmologia do povo Waurá. Considerada a “dona do barro”, trata-se de uma criatura semelhante a uma cobra , responsável por ensinar aos Waurá a arte da cerâmica.
No final da tarde de 02/09, o Espaço Floresta no Centro, do ISA, recebe as ceramistas do Xingu para uma conversa gratuita sobre os efeitos das mudanças climáticas na produção de cerâmicas tradicionais, às vésperas da COP 30 em Belém. Haverão dois artistas waurá realizando pintura corporal.
Nos dias 04 e 05/09, o Sesc Consolação promove duas oficinas livres de cerâmica, conduzidas pelas ceramistas, que apresentarão como o processo de produção mantém os saberes tradicionais de seus povos.
As últimas atividades ocorrem em 06/09, no Museu A Casa do Objeto Brasileiro, em dois momentos: pela manhã, uma conversa aberta e gratuita sobre os impactos da crise climática no Território Indígena do Xingu (TIX); e, em seguida, uma oficina de grafismo em cerâmica, com inscrição paga e na qual cada participante receberá uma peça exclusiva.
Contação de história
Local: Museu das Culturas Indígenas, R. Dona Germaine Burchard, 451 - Água Branca, São Paulo Dia: 30/08 Horário: 11h às 12h Valor: Gratuito (retirada de ingresso)
COP30: Mudanças climáticas e o impacto da identidade Xinguana
Local: Floresta no Centro, Av. São Luiz,187 Galeria Metrópole - loja 28 2o piso - Centro Histórico de São Paulo, São Paulo Dia: 02/09 Horário: 19h Valor: Gratuito
Oficina cerâmica
Local: Museu das Culturas Indígenas, R. Dona Germaine Burchard, 451 - Água Branca, São Paulo Dia: 03/09 Horário: 14h Valor: Gratuito
Oficina cerâmica
Local: SESC Consolação, R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque Dia: 04/09 e 05/09 Horário: 18h30 e 14h (respectivamente) Valor: Gratuito (mediante inscrição)
Papo de Casa
Local: Museu a Casa do Objeto brasileiro, Av. Pedroso de Morais, 1216 - Vila Madalena, São Paulo Dia: 06/09 Horário: 11h00 às 12h00 Valor: Gratuito
Sujeito a lotação
Oficina grafismo
Local: Museu a Casa do Objeto brasileiro, Av. Pedroso de Morais, 1216 - Vila Madalena, São Paulo Dia: 06/09 Horário: 14h às 18h Valor: R$480,00
Todo o valor arrecadado nas atividades pagas será inteiramente entregue às ceramistas, que também irão vender suas peças durante os eventos. Também haverá oportunidade de pintura corporal em alguns dos eventos.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Expedições às Serras Guerreiras de Tapuruquara abrem novas datas para vivências na Amazônia indígena
Guiados por lideranças indígenas, os roteiros oferecem uma imersão nos saberes, paisagens e histórias do Médio Rio Negro
Quando as águas do Rio Negro baixam, praias de areia branca se formam em sua margem|Benjamin Mast/La Mochila Produções/ISA
Quando as chuvas intensas no noroeste da Amazônia começam a diminuir, é sinal que o verão vem logo ali. As águas do Rio Negro começam a baixar e a paisagem passa a ganhar um contorno branco das praias de areia fina em contraste com as águas escuras e o verde intenso das árvores. É chegada a hora da temporada de expedições do projeto de turismo de base comunitária Serras Guerreiras de Tapuruquara, que proporciona aos visitantes uma imersão no território, cultura e saberes dos povos indígenas do Rio Negro.
Próximas datas: 2025
Roteiro Maniaka – 18 a 25 de outubro
Roteiro Iwitera – 15 a 22 de novembro (confirmado)
2026
Roteiro Iwitera – 24 de janeiro a 03 de fevereiro
As Serras Guerreiras de Tapuruquara — Iwitera Maramuywera Tapuruquara Suiwara, na língua geral Nheengatu — são sagradas para os povos indígenas da região. Contam os antigos que elas eram um grupo de guerreiros que desceu da Colômbia para travar uma batalha contra a serra localizada do outro lado do rio. Amanheceu o dia, os guerreiros viraram pedra e ali estão até hoje.
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Local sagrado para os povos indígenas, as Serras Guerreiras estão localizadas nas TIs Médio Rio Negro I e II|Benjamin Mast/La Mochila Produções/ISA
Elas estão localizadas nas Terras Indígenas Médio Rio Negro I e Médio Rio Negro II, no município de Santa Isabel do Rio Negro (AM). Uma área estratégica, onde parte do território se sobrepõe ao Parque Nacional do Pico da Neblina.
Desde a primeira expedição, em 2017, o projeto vem contribuindo para a geração de renda e autonomia de mais de 200 famílias e para o fortalecimento da organização coletiva frente às ameaças que cercam o território, como a mineração, a pesca predatória, o desmatamento e outras atividades ilegais.
Nas expedições, os visitantes são conduzidos por guias indígenas em dois roteiros imersivos desenvolvidos por eles mesmos: o Maniaka e Iwitera. Ambas oferecem experiências de vivência cultural, como festas, danças e rituais, além do contato com saberes tradicionais e paisagens naturais da floresta amazônica.
A diferença entre eles é que um, o Iwitera, é mais focado no ecoturismo, com maior intensidade de trilhas na floresta, remadas nos rios e igapós e incursão às serra sagradas. Já o Maniaka proporciona uma imersão no etnoturismo, com uma vivência mais intensa no dia a dia das comunidades e seus modos de vida, e que inclui visita ao sistema agrícola tradicional, contação de histórias com os sabedores mais velhos e a experimentação da produção de artesanatos tradicionais, como cerâmica e cestarias.
As expedições partem de Manaus e os pacotes incluem transporte de barco até as comunidades, alimentação e todas as atividades previstas nos roteiros. Para saber mais sobre cada um deles, acesse o site do projeto: www.serrasdetapuruquara.org.br. As vagas são limitadas e, para garantir a sua, entre em contato com a Poranduba, operadora parceira do projeto.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Feira de Sementes do Vale do Ribeira oferece oficina de alimentação tradicional na escola
Encontro em Eldorado (SP) acontece em 15 e 16 de agosto e terá atividade sobre a Catrapovos em Iporanga, onde 95% da merenda vêm das roças quilombolas
O arroz preparado nas escolas quilombolas do Vale do Ribeira (SP) pode até parecer igual a outro qualquer. Mas guarda alguns segredos especiais que começam no plantio e garantem um sabor único. As sementes do arroz encontrado nas roças tradicionais nessa região são cultivadas e repassadas por gerações entre os quilombolas, e esse alimento ancestral – assim como outros, como feijão, mandioca, farinha – estão chegando cada dia mais ao prato dos alunos e ganhando espaço em relação a alimentos ultraprocessados.
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O arroz, assim como feijão, mandioca, farinha fazem parte da alimentação tradicional. Na foto, mutirão de colheita do grão no Vale do Ribeira|Marília Garcia Senlle/ISA
Nos próximos dias 15 e 16 de agosto, acontece em Eldorado (SP) a 16ª Feira de Troca de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira. O evento, organizado pelo Grupo de Trabalho da Roça (GT da Roça), celebra a resistência quilombola e promove a troca de sementes e mudas, e um dos temas que serão debatidos é a importância do alimento tradicional na escola.
Na sexta-feira (15/08), será realizada a oficina “Confluência de saberes: Comida quilombola na escola, a experiência da política pública Catrapovos no município de Iporanga/SP”. Na cidade, 95% da alimentação escolar vêm das roças quilombolas. Analista socioambiental do ISA, Carlos Ribeiro explica que a atividade busca informar secretarias de educação, nutricionistas, prefeitos e lideranças da região sobre a iniciativa, reforçando a importância da agricultura tradicional na escola.
A Comissão de Alimentos de Povos Tradicionais (Catrapovos), instituída pelo Ministério Público Federal (MPF), fomenta a adoção da alimentação tradicional em escolas indígenas, quilombolas e de comunidades ribeirinhas, extrativistas, caiçaras, entre outras, em todo o país.
Além disso, o grupo – composto por representantes de órgãos públicos e da sociedade civil – discute os entraves, desafios e formas de viabilizar as compras públicas da produção de comunidades indígenas e tradicionais, buscando o ajuste do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) às realidades locais.
Uma das conquistas foi a implementação da nota técnica do autoconsumo, que permite que alimentos processados e de origem animal produzidos nas comunidades sejam entregues nas escolas locais. “Isso ajuda os agricultores a entregarem seus produtos de forma mais simples e segura”, explica.
Com isso, as escolas passaram a receber alimentos como pães caseiros, beiju, farinha, frango caipira, ovos, arroz, feijão, mandioca e verduras frescas. Os produtores, na maior parte das vezes, são os familiares dos estudantes.
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Almoço do dia na escola do Quilombo Praia Grande conta com arroz, feijão, salada, legumes e carne|Fellipe Abreu/ISA
No Vale do Ribeira, a Catrapovos é composta pelo ISA, lideranças quilombolas, MPF e representantes de órgãos públicos. A iniciativa do PNAE/Catrapovos está sendo executada em Iporanga, um dos municípios da região, desde 2024. A lista de alimentos fornecidos tem cerca de 50 tipos de produtos das roças tradicionais.
Liderança do Quilombo Porto Velho, mãe, agricultora e estudante de Pedagogia, Vanilda Donato, fala da importância da Catrapovos. “A Catrapovos promove o resgate da cultura alimentar das crianças. A cultura alimentar e a forma de produzir passam a fazer parte da escola. E também acho a coisa mais linda quando as crianças estão comendo aquele alimento que vem do tio, da madrinha, do padrinho, da tia, da mãe. Então a criança passa a ter um reconhecimento do quanto o pai e a mãe também são produtores, são pessoas que contribuem com a renda e para o meio ambiente”, conta.
Vanilda Donato estará na oficina falando de sua experiência, assim como a nutricionista Maryana Camargo, da Secretaria Municipal de Educação de Iporanga, que ressalta que a oficina durante a Feira de Sementes será uma oportunidade para falar sobre o sucesso do programa.
“Em Iporanga, 95% da merenda escolar vêm da produção daqui. Eu consigo abastecer bem as escolas com alimentação de qualidade, sem ultraprocessados e industrializados. É bom para as comunidades, para a identidade e a autonomia. E é importante repassar as informações para que os municípios vizinhos possam conhecer a iniciativa”, diz.
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O SAT Quilombola do Vale do Ribeira é considerado patrimônio cultural brasileiro por cultivo com roças em meio à floresta|Fellipe Abreu/ISA
Segundo ela, o acesso ao alimento melhorou muito. “Como as comunidades tradicionais são distantes da cidade, havia um problema para a entrega. Com a Catrapovos, esse problema acabou. Alimentos como verduras, frutas, pão, bolo e queijo são entregues pela própria comunidade na escola. O cardápio funcionou certinho nessas comunidades tradicionais”, afirma.
A feira também reforça o fortalecimento da agricultura tradicional na região. O Sistema Agrícola Tradicional Quilombola do Vale do Ribeira é considerado patrimônio cultural brasileiro. A forma de cultivo, com roças em meio à floresta, produz fartura e, ao mesmo tempo, protege o ambiente. Esse sistema de saberes promove regulação climática, cuida da água e da biodiversidade.
A programação da feira inclui seminários, mesas redondas e troca de saberes, promovendo a valorização das sementes tradicionais e das práticas agroecológicas.
Família na escola
Em julho, foi realizada em Iporanga uma oficina que uniu mães de alunos e merendeiras. Durante o encontro foi promovida uma troca de conhecimentos sobre preparo de alimentos tradicionais, possibilitando a aproximação entre quem entrega o alimento – as mães agricultoras - e quem está recebendo e vai preparar os pratos. Além da troca de saberes, houve a possibilidade de se criar um vínculo de confiança.
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Oficina com mães e merendeiras promoveu troca de saberes e aproximação dos quilombos com a comunidade escolar|Programa Vale do Ribeira/ISA
“Na hora de fazer um arroz com frango caipira, cada uma fez à sua maneira. Mas o que teve de importante foi a troca de emoção. A mãe faz a forma que aprendeu com as avós. As merendeiras, do jeito que aprenderam na escola. Mas a receita acabou ganhando mais uma ligação afetiva. Quando forem fazer, vão lembrar das histórias! Foi uma forma de aproximar os quilombos da escola”, finaliza a nutricionista Maryana Camargo.
Serviço
16ª Feira de Troca de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas
Dias 15 e 16 de agosto em Eldorado, SP
Participação gratuita
Programação:
15/8 das 9h30 à 12h30
Seminário: Educação Quilombola, transmissão de saberes e os desafios da juventude quilombola nos territórios.
Mesa redonda 1: No tempo dos Avós.
Mesa redonda 2: Os tempos de hoje e o futuro ancestral - começo, meio e começo.
15/8 das 14h30 às 16h
Momento da prosa: Confluência de saberes
Comida quilombola na escola, a experiência da política pública Catrapovos no município de Iporanga/SP.
Sementes agrícolas e florestais: desafios de conservação e manutenção de variedades.
Manejo Integrado do Fogo - Programa Prevfogo.
16/08 das 9h às 14h
16ª Feira de Trocas de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira com tradicional almoço quilombola
Local: Praça Nossa Senhora da Guia/Eldorado/SP.
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Prêmio Vladimir Herzog: Categoria Extra “Defesa da Democracia” recebe inscrições até 23 de setembro
No marco dos 50 anos do assassinato de Vlado, organizadores instituem nova categoria de premiação para reconhecer produções focadas na defesa da Democracia
A Comissão Organizadora do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos instituiu uma nova categoria de premiação para marcar os 50 anos do assassinato de Vlado. Trata-se da Categoria Extra: Defesa da Democracia cujo objetivo é destacar pautas que tratam da política nacional, ataques ao Estado Democrático de Direito e formas com que as instituições brasileiras, em todas as esferas, estão atuando na defesa de nossa Democracia.
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Para a nova categoria serão aceitas inscrições individuais ou em equipe, limitadas a apenas um trabalho por autor ou equipe de autores e produzido entre 8 de janeiro de 2023 e 23 de setembro de 2025 nas modalidades texto, vídeo, áudio, multimídia, foto e arte O prazo estabelecido em Regulamento é até às 18h do dia 23 de setembro de 2025.
Comissão organizadora e promotora
Desde a sua primeira edição, concedida em 1979, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog presta homenagem a personalidades e profissionais da comunicação que se destacam na promoção dos direitos humanos fundamentais. Também celebra a vida e obra do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura civil-militar no dia 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Desde 2023, na histórica edição de 45 anos, a premiação passou a ser organizada pelo Instituto Prêmio Vladimir Herzog, associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou político-partidários, fundada em novembro de 2022, em São Paulo. A entidade reúne 18 instituições da sociedade civil, além da família Herzog: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor); Artigo 19; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Geledés; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental (ISA); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e União Brasileira de Escritores (UBE).
CALENDÁRIO Regulamento | Categoria Extra: Defesa da Democracia Inscrições aqui até 23 de setembro de 2025, às 18h
Sessão pública de julgamento e divulgação dos vencedores: 7 de outubro, terça-feira, 14h, com transmissão ao vivo
Roda de Conversa com os ganhadores e Solenidade de Premiação: 27 de outubro, segunda- feira, no Tucarena, em São Paulo
Fruto de sua dissertação de mestrado, o livro convida o leitor a adentrar as paisagens do Confim das Águas, território no interior do Rio Grande do Sul, por meio de histórias e saberes tecidos entre roças, capoeirões, bichos, mato e gente.
Na interface entre disciplinas, como é o caso da etnoecologia e da etnobiologia, a bióloga Joana Bassi constrói um texto sensível e ousado, fruto de uma escuta atenta e de um engajamento afetivo com os habitantes do território.
O livro é um convite para conhecer o Confim das Águas e seus habitantes, que "nos contam sobre a natureza vivenciada em seus caminhos, em uma ecologia aprendida e vivenciada entre roças, capoeirões, mato, bichos e pessoas".
Mais do que uma narrativa acadêmica, o livro propõe uma reflexão urgente sobre nossa desconexão com a natureza e oferece caminhos para valorizar modos de vida que cuidam, cultivam e aprendem com o ambiente.
Joana Braun Bassi é socioambientalista, mãe de Nauê, bióloga e mestre em desenvolvimento rural pela UFRGS. É vice-coordenadora da Rede Sul de Restauração Ecológica (gestão 2023-2025) e atua como analista ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, onde tem especial dedicação ao tema da Conservação pelo Uso e à intersecção entre biodiversidade, sistemas de manejo e modos de vida.
O Prêmio Juliana Santilli, organizado pelo ISA em parceria com a Editora Mil Folhas (IEB) e a Associação Bem-Te-Vi Diversidade, homenageou a memória da pesquisadora e promotora Juliana Santilli, defensora incansável dos direitos socioambientais.
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Joana Braun Bassi fala durante entrega do Prêmio Juliana Santilli de Agrobiodiversidade, em novembro de 2017, em Brasília|Matheus Alves/ISA
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Confluência de saberes indígenas e quilombolas marca 2ª oficina do Ciclo Intercultural sobre Políticas Climáticas no Rio Negro
Encontro fortaleceu a escuta, troca de experiências e estratégias coletivas em defesa dos territórios
A segunda oficina do Ciclo de Estudos Interculturais sobre Políticas Climáticas reuniu cerca de 40 lideranças das regiões de abrangência da governança territorial da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), entre os dias 15 e 18 de julho, em São Gabriel da Cachoeira (AM). O encontro foi marcado pela escuta, troca de experiências e fortalecimento das estratégias coletivas em defesa dos territórios, com foco nas conexões entre mercado de carbono, governança e justiça climática.
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Lucilene Veloso, do povo Desana e articuladora do Departamento de Mulheres da região da CAIBARNX, fala durante atividade em São Gabriel|Juliana Radler/ISA
A programação de quatro dias trouxe temas estratégicos, como projetos de carbono florestal, REDD+ jurisdicional, Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e também perspectivas de participação dos povos do Rio Negro na COP 30, marcada para novembro deste ano, em Belém (PA).
Na primeira parte da oficina, a realidade das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira (SP) foi apresentada como ponto de partida para compreender como as mudanças no clima impactam diretamente seus modos de vida, as práticas agrícolas e a juventude nas comunidades, proporcionando uma importante troca de experiências e conexão entre os territórios indígenas e quilombolas, seus desafios e potências.
“A gente trouxe um pouco das questões do que é o quilombo no Vale do Ribeira, sobre as roças, sobre a legislação, sobre a educação e como trazer o jovem para dentro dessa discussão, que é muito pertinente hoje em dia. Falamos também da importância da preservação do território, de buscar e trazer esse conhecimento para os nossos, preservar nossos anciãos e essa cultura que não pode se perder”, detalhou Nicéia da Prata Santos, liderança quilombola da comunidade Maria Rosa, em Iporanga (SP), e integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
Lucia Munari, pesquisadora no Programa Vale do Ribeira, do Instituto Socioambiental (ISA), apresentou a metodologia aplicada em comunidades da região, em pesquisa que visa identificar como os quilombolas percebem as mudanças climáticas nos territórios, por meio da aplicabilidade de protocolo internacional com indicadores locais e ampla participação das comunidades na coleta de dados.
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À esquerda, Nicéia da Prata Santos, liderança do Quilombo Maria Rosa e à direita Lucia Munari, pesquisadora do ISA |Juliana Radler/ISA
O conhecedor indígena Arlindo Maia Tukano, ao final, reforçou a importância do encontro, destacando a presença dos convidados e a oportunidade de conhecer a perspectiva quilombola, seus territórios e os pontos de convergência com a cosmologia indígena. “Gostei muito de saber mais sobre os nossos amigos quilombolas. Eu não sabia como era, e aqui, através das falas da nossa amiga Nicéia, percebi que eles são nossos irmãos de luta. Nossa luta é a mesma”, afirmou.
Os debates sobre políticas climáticas se aprofundaram com a apresentação de estudos e experiências práticas, como o caso do Projeto de Carbono Paiter Suruí, em Rondônia, o primeiro projeto indígena brasileiro no mercado voluntário de carbono, apresentado por Karoline Brasil, engenheira florestal do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
Karoline Brasil, engenheira florestal do Idesam, apresenta o Projeto de Carbono Paiter Suruí durante as atividades em São Gabriel da Cachoeira| Juliana Radler/ISA
As atividades abordaram conceitos técnicos fundamentais, como linha de base, adicionalidade, estoque de carbono e as etapas para implementação de projetos florestais em territórios indígenas, com ênfase em uma abordagem que considera saberes tradicionais, a biodiversidade e os impactos reais das mudanças climáticas nas comunidades.
Os grupos trabalharam, de forma prática, na elaboração de trilhas para projetos próprios e refletiram sobre os desafios e oportunidades da participação em programas como o REDD+ Jurisdicional.
Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do ISA, no Amazonas, que organiza o ciclo em parceria com Foirn e com apoio do Banco Mundial, destacou a importância do encontro num momento em que a pauta climática ganha ainda mais centralidade com a realização da COP30 na Amazônia.
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Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do ISA (blusa roxa), é a organizadora do ciclo de estudos|Vanessa Fernandes/ISA
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Após as discussões, os grupos de trabalho apresentaram os resultados|Vanessa Fernandes/ISA
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Temas como cultura, conhecimento e biodiversidade formaram a pauta|Vanessa Fernandes/ISA
“Os cientistas têm alertado para o ponto de não retorno da Amazônia. Os povos indígenas também nos mostram, através de sua ciência e cosmovisão, que a natureza está em desarmonia e não apresenta mais os padrões que costumavam orientar a vida na floresta. As secas estão extremas e as inundações também. Os rios estão secando, os peixes diminuindo. Já vivemos os impactos das mudanças do clima na Amazônia e a efetivação de medidas de adaptação e mitigação são urgentes. Um financiamento climático que leve em consideração a justiça ambiental precisa avançar em Belém”, afirmou.
O encerramento da oficina reforçou a construção coletiva de estratégias para atuação indígena na COP 30 e a importância de levar à conferência uma voz que reflita a diversidade e a complexidade dos territórios amazônicos e tradicionais do Brasil.
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Encerramento da segunda oficina do Ciclo de Estudos Interculturais sobre Políticas Climáticas no Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira|Rede Wayuri
Ficha técnica do Ciclo de Estudos Interculturais em Políticas Climáticas do Rio Negro | II Oficina de 15 a 18 de julho:
Organização: Juliana Radler
Produção: Antônio Gabriel Silva, Michelle Machado Tukano, Juliana Radler, Wizer Oliveira Baré e Sidnei dos Santos
Conselho Intercultural e articulação com rede de Aimas: Arlindo Maia Tukano, Aloisio Cabalzar e Danilo Bruxellas Parra
Palestrantes convidadas: Ana Karoline Brasil (IDESAM), Lúcia Munari (Programa Vale do Ribeira/ISA) e Nicéia da Prata Santos (CONAQ)
Mediação: Michelle Machado Tukano e Juliana Radler
Logística: Antônio Gabriel Silva, Sidnei dos Santos e Wizer Almeida Baré
Alimentação: Rosemira Lizardo, Marlene Albino e Valéria Guerra
Apoio na articulação com comunidades: Adelina Sampaio Desana
Elaboração de conteúdos para a II oficina (slides, apostila e materiais de apoio): Ana Karoline Brasil (IDESAM), Lúcia Munari (Programa Vale do Ribeira/ISA), Nicéia da Prata Santos (CONAQ) , Juliana Radler (ISA) e Renata Alves (ISA)
Relatoria do evento e gravação em áudio dos conteúdos: Inês Mexia
Participantes:
Diretoria da Foirn: Dario Casimiro Baniwa (presidente), Hélio Gessém Monteiro Lopes Tukano, Carlos Neri Piratapuia e Edison Cordeiro Gomes Baré.
Lideranças das Coordenadorias: Coordenadoria das Associações Indígenas do Baixo e Médio Rio Negro (Caimbrn): Adilson da Silva Joanico e Pedro Vaz Pena; Coordenadoria das Associações Indígenas do Balaio, Xié e Alto Rio Negro (Caibarnx): Adelina de Assis Sampaio Veloso, José Baltazar, Edmundo Gomes Alemão e Lucilene Veloso; Coordenadoria das Associações Indígenas do Distrito de Iauaretê (Coidi): Gustavo Cordeiro Trindade, Miriam Sirlene Marques Dias e Fátima Alves Nogueira Coordenadoria Diawii (rios Uaupés e Tiquié): Alexandre Sarmento Rezende, Francicleno dos Santos Brandão, Anunciata Rezende Marques, Geraldino Pena Tenório e Nildo Fontes; Coordenadoria Nadzoeri (rios Içana e Ayari): Ronaldo Apolinário, Francinaldo Farias, Joaquim da Silva Lima e Tiago Pacheco;Rede de Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs) - Ezequias da Costa Pereira, Oscarina Caldas Azevedo, Rafael Antonio Azevedo, Roberval Pedrosa e Rogelino da Cruz Alves Azevedo;Comunicadores da Rede Wayuri - Alderney Trindade da Silva, Claudia Ferraz Wanano, José Paulo Sampaio Castro, Aldison Lobo, Josivan Aguiar, Nayra Sthefany Cardoso, Richarlison Lana Meireles
Departamento de Adolescentes e Jovens do Rio Negro (Dajirn): Jucimery Garcia Tariano, Mariete Pompilho Videira
Conhecedores indígenas: Arlindo Maia Tukano e Januário Bastos Alves Tuyuka
Equipe do Programa Rio Negro: Ana Letícia Pastore, Danilo Bruxellas Parra, Dulce Morais, Jéssica Martins, Vanessa Fernandes, Juliana Radler e Renata Alves
Convidada da Academia: Juliana Lins Góes de Carvalho, doutoranda da Universidade Radboud, Holanda
Instituições convidadas: ICMBIO (São Gabriel da Cachoeira): Airton Norberto da Silva Almeida, Anair Fontes Azevedo, Edivaldo Luiz Lopes e Maria Janete Pena Ramos
Universitários de Gestão Ambiental da UFAM em São Gabriel da Cachoeira: Denise Nogueira, Humberto Rogério Freitas e Jociele Marinho Ferraz
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