Somando às celebrações dos 30 anos de homologação da Terra Indígena Yanomami, as Associações que formam o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançam agora o hotsite especial “Yanomami 30 Anos - O Futuro é Indígena”. Estreiam ainda um mini-documentário sobre o encontro entre lideranças locais e aliados históricos na comunidade Xihopi, no final de maio, para comemorar as últimas décadas e traçar estratégias de enfrentamento ao garimpo ilegal, a principal ameaça à sobrevivência das comunidades.
Durante todo o ano de 2022, o Fórum e seus parceiros organizam eventos e iniciativas culturais para relembrar e reverenciar a conquista histórica que garantiu a homologação em área contínua da maior Terra Indígena do Brasil, em 25 de maio de 1992 e, assim, "segurou o céu" para que os povos Yanomami e Ye’kwana, incluindo os grupos isolados, continuassem a viver conforme sua cultura.
“Não se pode destruir a terra sagrada. Que seja respeitada, junto com as crianças-futuro e também junto com os pajés. O território Yanomami pertence ao povo Yanomami”, afirma o xamã e grande liderança Yanomami Davi Kopenawa.
Além do filme, a plataforma digital apresenta uma linha do tempo da luta dos Yanomami desde os primeiros contatos, em 1950, e uma agenda de eventos que vão ocorrer ao longo dos próximos meses, entre exposições, filmes e livros. Além de muitas imagens e informações, o novo site também convida os visitantes à doar para a Hutukara Associação Yanomami, que precisa do apoio de todos para fazer frente às pressões e ameaças enfrentadas pelo território, comunidades e lideranças.
Os eventos e conteúdos de celebração dos 30 anos da Terra Indígena Yanomami contam com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e da Embaixada da Noruega e são realizados em parceria com a Descoloniza Filmes, a Aruac Filmes, o Grupo Companhia das Letras, o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Instituto Moreira Salles e a Editora Ubu.
Assista ao mini-doc:
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros reúne extrativistas da Amazônia em Manaus
Comércio justo, políticas de apoio ao extrativismo, ameaças aos territórios e castanhais e atuação em rede estarão na pauta de debates do encontro
* Por Adriano Maneo, IEB (Instituto Internacional de Educação do Brasil)
Mais de 80 extrativistas de todos os estados produtores de castanha-da-amazônia estarão reunidos para o 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros. O evento, que acontece em Manaus de 23 a 25 de agosto, é promovido pelo Coletivo da Castanha e pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) em parceria com uma série de organizações da sociedade civil, movimento social e organizações de base comunitária produtoras de castanha-da-amazônia.
Serão três dias de trocas de experiências, conversas, debates, oficinas, apresentações culturais e reuniões para alinhar a atuação do Coletivo. Entre os convidados, representantes do Coletivo da Castanha e organizações comunitárias, OCA, CNS, COIAB, CIR, CPT e ÓSócioBio.
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Coletivo da castanha e OCA
O Coletivo da Castanha é uma rede com mais de 100 extrativistas de mais de 50 organizações comunitárias que trabalham com castanha-da-amazônia, cobrindo todos os sete estados produtores. O coletivo realiza o monitoramento participativo de preços das safras de castanha desde 2017 e irá reunir presencialmente os participantes pela primeira vez desde sua fundação.
O Coletivo é coordenado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia, o OCA, uma rede de organizações que tem como missão produzir conhecimento e inteligência, além de mobilizar os diversos atores da cadeia de valor para consolidar um mercado justo, que valorize os povos, populações e comunidades envolvidas ao mesmo tempo em que promove a conservação da floresta. Saiba mais sobre o OCA aqui.
Ambas iniciativas buscam cobrir, debater e buscar soluções para gargalos históricos da cadeia da castanha, como:
- Falta de incentivo estatal à atividade
- Falta de informações qualificadas sobre o mercado e sobre o produto
- Produção pulverizada e de difícil acesso
- Insegurança fundiária nas áreas de coleta
- Grande presença de intermediários e atravessadores
- Dificuldades de infraestrutura logística
- Baixo acesso a insumos e serviços
- Falta de padronização do produto
- Demanda instável e alta oscilação de preços
- Baixo conhecimento da sociedade sobre os aspectos culturais e socioambientais da castanha
Fatos sobre a castanha e a cadeia de valor
- Movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano, no Brasil
- Mais de 33 mil toneladas produzidas em 2020
- Produção proveniente essencialmente do extrativismo em áreas protegidas
- Produção não acontece sem a floresta em pé
- Envolve mais de 60 mil pessoas de povos e comunidades tradicionais
- Envolve ao menos 127 organizações comunitárias
- Envolve aproximadamente 60 empresas de beneficiamento e comercialização
A castanha, o extrativismos e a cadeia de valor
A castanha-da-amazônia, do-pará ou do-brasil, é fundamental para a conservação da Amazônia. Com produção proveniente quase exclusivamente do extrativismo, a castanha e o castanheiro compartilham extensos pedaços de terra na floresta e, para realizar a coleta, são necessárias grandes áreas de floresta conservada, onde se encontram os castanhais.
A castanheira tem no extrativista um aliado. Ao mesmo tempo em que ele coleta e dispersa as sementes, realiza também um trabalho de vigilância e gestão territorial, percorrendo grandes distâncias e protegendo seu território contra a grilagem de terras, desmatamento, queimadas e outras ameaças.
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Jovens Wai Wai despejam ouriços cheios de castanhas. Atividade é feita tradicionalmente em família 📷 Rogério Assis/ISA
A relação castanheira-extrativista faz parte das culturas de inúmeros povos e comunidades tradicionais da Amazônia há milênios. Indígenas, quilombolas e ribeirinhos são os principais responsáveis pela coleta desse fruto que é parte das tradições e modos de vida dessas populações.
Além dessas valiosas características, a castanha é um dos principais produtos do extrativismo brasileiro, com enorme potencial de geração de renda. A castanha movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano só no país, mas de toda essa riqueza gerada, a menor parte fica com os extrativistas.
Estima-se que a cadeia de valor da castanha-da-amazônia envolva mais de 60 mil pessoas de povos e comunidades tradicionais, ao menos 127 organizações comunitárias (sendo 98 associações e 29 cooperativas) e aproximadamente 60 empresas de beneficiamento e comercialização.
E é para buscar caminhos de valorização do trabalho do extrativista coletor de castanha e enfrentar as muitas questões que exigem transformação na cadeia de valor e no apoio ao extrativismo na Amazônia que o Coletivo da Castanha promove o 1º Encontro Nacional de Castanheiras e Castanheiros.
Esta ação do Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) tem apoio do projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha; da Aliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA); e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional – USAID.
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Com a força da castanha, povo Wai Wai cuida da floresta e do nosso futuro. Clique aqui e conheça essa história
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Garimpo ilegal contamina peixes de rios de Roraima, revela estudo
Em 75% dos pontos analisados, praticamente a metade dos pescados apresentou concentrações maiores ou iguais ao limite estabelecido pela FAO/OMS
Assado, frito, na brasa ou cozido. Não importa o modo de preparo, o peixe tem espaço garantido na mesa da população de Roraima. No entanto, o hábito saudável e tradicional está ameaçado pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
Segundo estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Evandro Chagas e Universidade Federal de Roraima (UFRR), os pescados coletados em três de quatro pontos na Bacia do Rio Branco apresentaram concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
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De acordo com o estudo, para algumas espécies de peixes carnívoros, como o filhote, a contaminação já é tão alta que praticamente não existe mais nível seguro para o seu consumo, independente da quantidade ingerida. O consumo continua sendo possível para espécies como o matrinxã, aracu, jaraqui, pacu, jandiá e outras. Entretanto, para crianças e mulheres em idade fértil, estas espécies devem ser consumidas com moderação, para evitar riscos à saúde.
A análise de avaliação de risco à saúde, baseada em metodologia proposta pela OMS, coletou amostras de pescado entre 27 de fevereiro e 6 de março de 2021 e revelou índices altos de contaminação em trecho do Rio Branco na cidade de Boa Vista (25,5%), Baixo Rio Branco (45%), Rio Mucajaí (53%) e Rio Uraricoera (57%).
“As altas taxas de contaminação observadas, provavelmente, são decorrentes dos inúmeros garimpos ilegais de ouro instalados nas calhas dos rios Mucajaí e Uraricoera”, pontuam os pesquisadores.
Saiba quais peixes podem ser consumidos
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‼️ Pirandirá: risco muito alto de consumo|Divulgação
‼️ Peixes carnívoros com risco muito alto: filhote, barba chata, coroataí, piracatinga e pirandirá | consumir no máximo uma porção de 50 gramas, uma vez ao mês.
❗Peixes carnívoros com alto risco: dourada, mandubé, liro, pescada, piranha preta e tucunaré | o consumo não deve exceder 200 gramas por semana.
✅ Peixes não-carnívoros com médio e baixo risco: curimatã, jaraqui, matrinxã e pacú | não apresentam restrições e podem ser consumidos em porções de até 300 gramas por dia.
* Recomenda-se evitar durante toda a gravidez o consumo de peixes carnívoros (barba chata, coroataí, filhote, piracatinga e pirandirá)
No Uraricoera, ponto mais próximo à Terra Indígena Yanomami, a cada 10 peixes coletados, seis apresentaram níveis de mercúrio acima dos limites estipulados pela OMS. No Rio Branco, na altura da capital, Boa Vista, a cada 10 peixes coletados, aproximadamente dois não eram seguros para consumo.
Ou seja, mesmo distantes da Terra Indígena Yanomami, e apesar de em proporção menor, os habitantes de Boa Vista não estão livres dos impactos do mercúrio utilizado no garimpo ilegal.
Metodologia
Conforme explica a nota técnica, com os dados do nível de contaminação nos peixes, foi realizado então um cálculo do risco do consumo entre diferentes grupos populacionais de Roraima, que consistiu em cinco etapas.
A primeira estabeleceu a divisão em estratos populacionais – urbano e não urbano – e dos seus respectivos pesos médios, determinando os níveis de mercúrio no pescado e estimando a quantidade ingerida diariamente por cada população em estudo.
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Garimpo no Rio Mucajaí, Terra Indígena Yanomami: 53% das amostras de peixes coletadas mostraram contaminação pelo mercúrio|Bruno Kelly/HAY
Foram estimados os riscos à saúde decorrentes do consumo de pescado contaminado por mercúrio para mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), homens adultos (maiores de 18 anos), crianças de 5 a 12 anos e de 2 a 4 anos.
A segunda etapa considerou a estimativa da quantidade média de mercúrio ingerida diariamente pelos estratos investigados, a partir da quantidade de pescado consumido. No terceiro passo, se calculou a razão de risco, estimada a partir da divisão da dose de ingestão diária de mercúrio em cada grupo, analisada na etapa anterior, pela dose segura estabelecida pelos órgãos da FAO/OMS.
Em seguida, foram construídos cenários hipotéticos de exposição para avaliar o impacto de diferentes padrões de consumo na saúde dos grupos. Finalmente, se estabeleceu um conjunto de orientações buscando identificar um padrão de Consumo Máximo Seguro de Pescado (CMS), a partir das análises realizadas, a fim de evitar problemas decorrentes da contaminação por mercúrio.
No cálculo da razão de risco, foram definidos três padrões de consumo de pescado para a análise de risco à saúde: baixo, com até 50 gramas de pescado por dia, moderado, com até 100 gramas de pescado por dia e alto, com 200 gramas de pescado por dia.
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Ponte dos Macuxis, que atravessa o Rio Branco, ligando Boa Vista aos municípios do Cantá, Normandia e Bonfim Rio Branco|Moreno Martins/ISA
A conclusão é a de que não há quantidades seguras de consumo de peixe para quase todos os grupos analisados – exceto homens com consumo inferior a 50 gramas diárias.
Os pesquisadores ressaltaram ainda: “comparando as razões de risco estimadas para as populações urbana e não-urbana observamos que ambas estão igualmente sob risco de adoecer, devido à ingestão de peixes contaminados por metilmercúrio”.
Impactos do mercúrio na saúde
Apesar de o pescado ser uma proteína de alta qualidade nutricional, indicada em dietas com baixo colesterol e mais saudáveis, a contaminação do pescado de Roraima por mercúrio representa um sinal de alerta, defendem os pesquisadores.
Segundo o estudo, 45% do mercúrio usado em garimpos ilegais para extração de ouro é despejado em rios e igarapés da Amazônia, sem qualquer tratamento ou cuidado. O mercúrio liberado de forma indiscriminada no meio ambiente pode permanecer por até cem anos em diferentes compartimentos ambientais e pode provocar diversas doenças em pessoas e em animais.
Nas crianças, os problemas podem começar na gravidez. Se os níveis de contaminação forem muito elevados, podem haver abortamentos ou o diagnóstico de paralisia cerebral, deformidades e malformação congênita. Os menores também podem desenvolver limitações na fala e na mobilidade. Na maioria das vezes, as lesões são irreversíveis, provocando impactos na vida adulta.
Estudos recentes realizados com indígenas do Povo Munduruku que vivem na região do Médio Tapajós, no Estado do Pará, revelam alterações neurológicas e psicológicas em adultos e atrasos no desenvolvimento de crianças associados ao consumo de peixes contaminados por mercúrio.
O efeito nefasto do mercúrio na saúde também já foi comprovado entre os Yanomami. Segundo estudo da Fiocruz com apoio do ISA, na comunidade de Aracaçá, na região de Waikás, às margens do Rio Uraricoera, onde há forte presença garimpeira, 92% das pessoas examinadas apresentaram contaminação por mercúrio.
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Garimpo no Uraricoera, Terra Indígena Yanomami. Peixes coletados na região mostraram maior índice de contaminação por mercúrio|Bruno Kelly/HAY
“Em síntese, a presença de garimpos em terras indígenas, associada ao uso indiscriminado de mercúrio, diferente do que muitos políticos e empresários dizem, não traz riqueza e desenvolvimento às comunidades. Pelo contrário, deixa um legado de mazelas e problemas ambientais que contribui para perpetuar o ciclo de pobreza, miséria e desigualdade na Amazônia”, escrevem os autores.
Impactos para os pescadores de Roraima
A realidade verificada pelo estudo gera impactos diretos nas atividades das comunidades de pescadores artesanais de Roraima. Sem ter qualquer relação com o garimpo ilegal, eles acabam sendo prejudicados pela atividade criminosa ao terem seu principal ganha-pão, o peixe, contaminado por altas concentrações de mercúrio, conforme revela o levantamento conduzido pelos pesquisadores.
"Isso causa prejuízo aos pescadores e riscos à saúde de toda a população que come os peixes dos rios de Roraima”, afirma Ciro Campos, pesquisador do ISA. Ele ressalta que, apesar de peixes muito apreciados, como filhote, dourada e pescada, já estarem contaminados, há outros, também muito consumidos, como matrinxã, pacu e jaraqui, que "ainda estão saudáveis".
Na lista de recomendações feita ao final da nota técnica, os pesquisadores orientam a elaboração de mecanismos de proteção financeira ao setor pesqueiro, com o intuito de evitar que pescadores artesanais sejam impactados economicamente pela restrição ao consumo de diversas espécies de peixes contaminados.
De acordo com os autores, é importante aplicar o princípio do poluidor-pagador: quem deve se responsabilizar pelas perdas econômicas são as pessoas físicas e jurídicas que investem e fomentam o garimpo ilegal na região, e não a população local.
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ISA abre loja 'Floresta no Centro' em São Paulo
Espaço na Galeria Metrópole apresenta saberes de comunidades do Xingu, Rio Negro e Vale do Ribeira, além de publicações da organização e de parceiros
Entrada da loja Floresta no Centro, a loja do Instituto Socioambiental (ISA) na Galeria Metrópole, em São Paulo|Claudio Tavares/ISA
O Instituto Socioambiental (ISA) abre sexta-feira (26/08), às 18h, sua loja e espaço de eventos em São Paulo. Floresta no Centro fica na segunda sobreloja da Galeria Metrópole, na Praça Dom José Gaspar, centro da capital paulista.
O evento de abertura será um bate-papo sobre o livro O desejo dos outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami. Participam a autora, a antropóloga Hanna Limulja, e a especialista em biodiversidade do ISA, Nurit Bensusan. A obra, publicada pela UBU Editora, foi lançada em parceria com o ISA e a Hutukara Associação Yanomami.
No mesmo dia, haverá comercialização de produtos de parceiros indígenas, ribeirinhos e quilombolas do ISA, de territórios no Xingu, entre o Mato Grosso e o Pará, no Rio Negro, que abrange parte do Amazonas e Roraima e no Vale do Ribeira, em São Paulo, bem como de publicações da organização e de parceiros que são parte da história da defesa dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais no Brasil.
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Artesanatos indígenas expostos no interior da loja Floresta no Centro, que será inaugurada em 26/8 com bate-papo|Claudio Tavares/ISA
O visitantes vão poder levar para casa Pimenta Baniwa, Cogumelo Yanomami, Castanha-do-Pará Vem do Xingu, Banana Chips Quilombola, além de cerâmicas e cestarias indígenas, entre outros exemplos de uma economia do cuidado com as florestas.
Estudo recente publicado pelo ISA mostrou que esses povos e suas economias são responsáveis, juntos, pela proteção de um terço das florestas no Brasil. Nos últimos 35 anos, somente as Terras Indígenas protegeram 20% do total de florestas nacionais.
Venha descobrir como os modos de vida de indígenas, ribeirinhos e quilombolas são inspiração para um futuro socioambientalmente justo. Floresta no Centro abre de segunda à sexta, das 9h às 18h.
Se não estiver em São Paulo, visite nosso site! Acesse
Serviço:
Abertura da nova loja do ISA, ‘Floresta no Centro’, e bate-papo sobre o livro O desejo dos outros: Uma etnografia dos sonhos yanomami
Joseca Yanomami, artista indígena que estreia exposição com mais de 90 desenhos no Masp, em São Paulo|Daniel Tancredi/Platô Filmes/ISA
Sonhos, espíritos-xapiri, animais, o cotidiano do povo que segura o céu: meses depois de a Terra Indígena Yanomami completar 30 anos de sua homologação, cenas singulares da Urihi-A, aterra-floresta yanomami, vão ocupar o Museu de Arte de São Paulo (Masp), sob os olhos do artista Joseca Yanomami.
Joseca Yanomami: nossa terra-floresta é a exposição do artista que estará em cartaz entre os dias 29 de julho e 30 de outubro. Ela reúne 93 desenhos, que expressam de forma sensível os detalhes da cosmovisão yanomami, os seres visíveis e invisíveis com quem os indígenas dividem a floresta e a luta cotidiana desse povo para preservar sua identidade diante das ameaças do garimpo ilegal.
“Quando eu aprendi a desenhar, eu ouvia os pajés cantando e eu gravava na minha cabeça para desenhar depois”, Joseca contou ao ISA em 2021. “Desenho os parentes, os animais, árvores, os passarinhos, araras, macacos, antas, peixes”.
Todos os desenhos estavam sob a guarda do Instituto Socioambiental (ISA) e foram comprados de Joseca e doados ao Masp.
Joseca
Joseca nasceu na década de 1970, na região do Demini, Terra Indígena Yanomami, e começou a desenhar e a esculpir animais notáveis em madeira no início dos anos 2000. Antes disso, ele havia sido o primeiro estudioso de línguas e professor da comunidade Watorikɨ, no início dos anos 1990 e também o primeiro Yanomami a trabalhar na área de saúde.
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Joseca: “quando eu aprendi a desenhar, eu ouvia os pajés cantando e eu gravava na minha cabeça para desenhar depois”|Daniel Tancredi/Platô Filmes /ISA
Desde 2003, as obras do artista são exibidas em importantes instituições de arte e ajudam a fortalecer a luta Yanomami e a divulgar os saberes dos indígenas para o Brasil e o mundo. Atualmente, além da exposição no Masp, seus desenhos podem ser vistos na mostra “Les Vivants”, da Fundação Cartier, em Lille (França) e também na exposição “Rooted Beings”, no Wellcome Collection Museum, em Londres (Inglaterra).
Ehuana
À mostra em Lille, somam-se ainda os desenhos de Ehuana Yaira, artista, artesã e pesquisadora da comunidade Watorikɨ. Primeira mulher Yanomami a escrever um livro em sua própria língua e a primeira da sua região a ocupar o cargo de professora, Ehuana se interessou pela arte ao contribuir com uma investigação sobre plantas medicinais, um conhecimento de domínio feminino.
Primeira artista yanomami, suas obras registram o cotidiano das mulheres yanomami a partir da ótica singular com a qual Ehuana retrata sua própria vida. São cenas coletando alimentos na floresta, pescando com timbó, na roça, carregando lenha, cuidando das crianças, facilitando partos, além do ritual da primeira menstruação e outros temas caros ao cotidiano das mulheres yanomami. Ela apresentou seus desenhos pela primeira vez na mostra “Árvores”, que passou por Paris em 2019 e por Xangai, na China, em 2021.
Yanomami Sob Ataque
A maior Terra Indígena do Brasil, distribuída entre os estados de Roraima e Amazonas, está invadida por mais de 20 mil garimpeiros ilegais. De acordo com o mais recente relatório da Hutukara Associação Yanomami, o garimpo cresceu nada menos que 3.350% entre 2016 e 2020.
Conforme denúncias dos indígenas, a atividade ilegal fez explodir os casos de malária no território, promoveu o completo colapso do sistema de saúde e intensificou os ataques de grupos criminosos às comunidades locais.
Tradição da castanha segue viva entre os Wai Wai. Ao centro, Tarcizio Yakima Wai Wai, tuxaua (cacique) da comunidade Anauá, e sua família|Fernanda Ligabue/ISA
Com o corpo franzino, no auge dos seus 90 anos, deitado no aconchego da sua rede e com os pés no chão batido da maloca, está Yakuta Wai Wai, conhecido também por seu Pedro, ancião da comunidade indígena Xaary, sul de Roraima. Entre suas memórias, está presente seus tempos de jovem coletor de castanha.
“Uns quebravam 20 sacos, outros cinco sacos, assim por diante. É assim que os povos começaram a trabalhar com castanha, nós não vendíamos para os karaiwa [não indígenas], era só nossa comida, era bom”, recorda Yakuta.
A memória viva que atravessa Pedro reverbera até hoje na realidade dos Wai Wai, povo conhecido pelo manejo tradicional da castanha. Mas, ao contrário dos tempos antigos, hoje os Wai Wai passaram a desenvolver a coleta da castanha também para a comercialização, impulsionando a economia local e nacional.
Em Roraima, no período chuvoso, as famílias Wai Wai se reúnem e passam semanas na mata coletando castanha. Além de ser fonte de alimento, passou a ser a principal fonte de renda. O período de safra da castanha pode ir de abril até agosto. A atividade tem prosperado: entre 2011 a 2022, o povo Wai Wai coletou e comercializou mais de 1,3 mil toneladas de castanha, segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Socioambiental (ISA).
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Jovens Wai Wai despejam ouriços cheios de castanhas. Atividade é feita tradicionalmente em família|Rogério Assis/ISA
A comercialização está movimentando uma economia do cuidado com as florestas que beneficia diretamente a economia local, como explica o vice-presidente da APIW, Anarcindo Onésimo Wai Wai. “Este trabalho está indo bem. Fazemos todo o processo de trazer da floresta, lavamos e secamos. Quando está tudo no jeito, levamos para vender diretamente para as empresas e tudo é revertido para as comunidades com compras de novos equipamentos e sustento das famílias.”
Antigamente, os Wai Wai contavam somente com atravessadores para vender a castanha para fora do Estado. Contudo, com o fortalecimento das associações indígenas Wai Wai, junto com o apoio de infraestrutura e logística oferecido pelo Instituto Socioambiental (ISA), a tendência é que mais parcerias sejam tecidas para impulsionar o manejo tradicional da castanha e a comercialização justa do produto.
“A gestão da produção da castanha era feita de forma pulverizada. Com as parcerias, as associações Wai Wai estão se capacitando no manejo para atender ao mercado nacional. Nosso foco é contribuir para a autonomia desses povos”, explica Felipe Reis, assessor técnico do ISA.
Da floresta à mesa
Da comunidade Xaary, se percorrem 80 km de estrada, atravessando um igarapé, e uma hora de caminhada mata adentro, para encontrar as gigantes castanheiras, carregadas de ouriços que caem no meio da mata, deixando rastros na floresta.
Desde os 15 anos, Valdeci Wai Wai, presidente da Associação dos Povos Indígenas Wai Wai do Xaary (APIWX), coleta castanhas. Hoje, ele reúne toda a família na atividade. Eles levam os equipamentos necessários para o trabalho: botas, facão, camisas de manga comprida, bonés e sacos de fibra. No caminho, vão abrindo a mata com facão. O ponto exato para a coleta é definido pela quantidade de ouriços espalhados pelo chão.
Os ouriços passam a ser coletados e amontoados no meio da floresta. Em seguida, sentados em círculo, os homens quebram e as mulheres separam as castanhas dos ouriços, ensacando-as. O trabalho coletivo continua com a jornada de retorno. Com sacos de castanhas de cerca de 50 kg nas costas, homens e mulheres caminham pela floresta a passos rápidos.
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Depois da coleta, sentados em círculos, os homens quebram os ouriços e as mulheres coletam as castanhas|Rogério Assis/ISA
“Realizamos uma reunião com a presença de todos: homens, mulheres e até as crianças. Definimos a data em conjunto e todos os pais de família, filhos, filhas vão até a base do castanhal. Os rapazes quebram o ouriço e as meninas também ajudam”, conta Valdeci.
Galpões
As associações Wai Wai investiram, com o apoio de parceiros, na construção de galpões para otimizar o armazenamento da castanha. De 2019 a 2022, foram construídos 11 galpões para armazenamento da castanha nos territórios.
No galpão podem ser armazenadas de 100 a 500 hectolitros (sacos com 100 litros ou 50kg) de castanha, dependendo do tamanho da comunidade e sua respectiva produção. É ali mesmo que as famílias se reúnem mais uma vez para a limpeza, secagem, separação e ensacamento, desta vez para a comercialização.
“Essa produção é a principal fonte de renda para nossas famílias. Com o recurso gerado, compramos motores de popa, voadeiras, motos. É assim que vivemos aqui”, afirma Ota Wai Wai, da comunidade Anauá.
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"É assim que vivemos aqui". Ota Wai Wai corta castanhas no galpão da comunidade Anauá, na Terra Indígena Wai Wai|Rogério Assis/ISA
O galpão da comunidade Anauá está sob a responsabilidade da Associação Indígena Wai Wai da Amazônia (AIWA), instituída em 2018. O presidente, Reginaldo de Souza Wai Wai, conta que a construção do galpão de castanha é uma grande conquista e auxilia no processo de beneficiamento do produto.
“É uma casa maior de abastecimento da castanha, é muito bom ter essa estrutura dentro da nossa comunidade, muito bem trabalhada. Este galpão é para atender a todos os povos Wai Wai”, diz.
Além de apoiar no processo de armazenamento da castanha, os galpões auxiliam na proteção e gestão territorial. “Os galpões estão localizados em regiões costumeiramente invadidas por não-indígenas, localizadas, em sua maioria, nos limites dos territórios, perto de vicinais. Essa localização auxilia também na melhor ocupação e monitoramento territorial”, detalha Felipe Reis, do ISA.
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Mapa apontados os galpões de castanha nas Terras Indígenas Wai Wai
Polo da castanha
O município de Caroebe, no sul de Roraima, está sobreposto à Terra Indígena Trombetas Mapuera, onde vive parte do povo Wai Wai.
São oito comunidades, aproximadamente 110 famílias, que se encontram às margens do Rio Jatapu e Jatapuzinho, região também rica em castanhais.
Nas margens do Jatapu foi construído mais um galpão para o armazenamento das castanhas. As lideranças da região estão organizando o espaço para ser o Polo Regional da Terra Indígena Trombetas Mapuera.
A localização facilita a comercialização do produto, que viaja de Roraima em caminhões até chegar a Manaus (AM). De lá, segue de barco até Belém (PA). Na capital paraense, as castanhas passam pelo processo de beneficiamento e industrialização e dali partem para indústrias alimentícias em vários estados, principalmente São Paulo.
O principal comprador é uma das maiores empresas de pães do Brasil, a Wickbold.
Neste ano, os Wai Wai prometem uma safra de 400 toneladas. “Aqui é para nós trabalharmos, armazenar a castanha. Daqui que vai sair a nossa produção para a cidade grande, é para isso que temos esse galpão dos Wai Wai”, explica a liderança Jaime Pereira Wai Wai, atual responsável pelo galpão Polo Regional.
Arte nos Galpões
Na comunidade Anauá, com cerca de 60 famílias, o galpão de castanha recebeu uma pintura do artista amazonense Raíz Campos, grafiteiro e muralista que já realizou diversos trabalhos com Povos Indígenas na região amazônica.
A inspiração foi o "tîtko yewnari", desenho do artesanato Wai Wai que representa uma parte do fruto da castanha.
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Jaime Wai Wai, liderança da comunidade Kwarikwara, e o grafiteiro Raiz Campos no galpão do Polo Regional|Rogério Assis/ISA
Na parte interna do galpão, Raiz grafitou o momento da coleta da castanha e a caminhada feita pelos indígenas dentro da floresta com o saco de castanha nas costas, baseado em fotos de Rogério Assis, fotógrafo paraense e colaborador do ISA.
“Eles estão muito felizes porque até então, tinham só um galpão, e agora eles têm um galpão indígena. Cada grafismo que a gente pinta eles acham ainda mais bonito, estou muito horando”, conta Raíz.
Mulheres, ancestralidade e futuro da castanha
As mulheres estão presentes em todos os momentos e têm papéis importantes na coleta da castanha. Uma delas é a Rudineia Noro Wai Wai. Desde criança, ela acompanha o pai no trabalho. “Nós, mulheres indígenas Wai Wai, compartilhamos o trabalho com os homens. Ajudamos nossos pais e ajudamos nossa família, de acordo com nossa cultura e costumes”, relata.
O papel delas é fundamental para manter o legado dos seus antepassados: a ancestralidade no manejo da castanha. Elas organizam todo o processo, desde a busca da lenha na floresta, à preparação do fogo para cozinhar e assar. Lavam, separam, descascam as castanhas para se transformarem nos mais variados pratos típicos.
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Mulheres Wai Wai apresentam pratos típicos feitos a base da castanha, comunidade Xaary, Terra Indígena Wai Wai|Rogério Assis/ISA
Dentre eles, estão o Mawkîn, uma farinha de castanha mesclada com farinha de tapioca; a paapa, o beiju feito da castanha; o kapayo repu, uma massa da castanha aquecida a lenha envolto no talo de buriti, que para os Wai Wai fica parecido com uma perna de tatu; o Xiwiri, pamonha de castanha; o mingau de banana com castanha e o kashara, peixe cozido com pimenta, comida típica dos povos indígenas de Roraima, feita com o leite da castanha.
“Nossas mães faziam para nos alimentar. Esse é o nosso costume. Nós não vamos abandonar esse costume tradicional. Nos alimentamos de acordo com a nossa cultura, até nos dias de hoje. Alimentamos nossos filhos assim e repassamos para as nossas filhas também”, afirma Ohserema Wai Wai, da comunidade Jatapuzinho.
“Queremos comercializar os nossos pratos típicos, para que mais pessoas tenham conhecimento da cultura Wai Wai, para que conheçam mais os nossos povos”, conclui, orgulhosa.
Assista ao filme "O caminho da castanha do povo indígena Wai Wai":
Esta reportagem foi realizada pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Associação dos Povos Indígenas Wai Wai do Xaary (APIWX), Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW) e Associação Indígena Wai Wai da Amazônia (AIWA), da rede Origens Brasil e da Funai. O apoio é da União Europeia, da Fundação Rainforest da Noruega, da Amazon Conservation Team - Brasil e da Evoltz.
Mulheres Wai Wai apresentam pratos típicos feitos a base da castanha, comunidade Xaary, Terra Indígena Wai Wai|Rogério Assis/ISA
Família Wai Wai, comunidade Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas Mapuera|Rogério Assis/ISA
Pedro Yakuta Wai Wai, ancião da Terra Indígena Wai Wai|Rogério Assis/ISA
Meninas Wai Wai no malocão da comunidade Jatapuzinho, Terra Indígena Trombetas Mapuera|Rogério Assis/ISA
Artesanato Wai Wai na comunidade Jatapuzinho, Terra Indígenas Trombetas Mapuera|Rogério Assis/ISA
Artesanato Wai Wai na comunidade Jatapuzinho, Terra Indígenas Trombetas Mapuera|Rogério Assis/ISA
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Está no ar a nova edição do boletim do ISA
Confira o resumo das atividades do ISA neste primeiro semestre de 2022
A edição 74 do Boletim do Instituto Socioambiental (ISA) destaca a ação de combate à fome realizada pelos ribeirinhos das Reservas Extrativistas da Terra do Meio (PA) com o envio de produtos de suas roças para a periferia da cidade de Altamira. Traz ainda um novo estudo sobre a destruição e a violência que a invasão de garimpeiros ilegais vem causando na Terra Indígena Yanomami e a comemoração desses indígenas pelos 30 anos de homologação de seu território. O julgamento do chamado "Pacote Verde" no STF, o site novo do ISA e a participação na feira de livros da revista 451 estão entre as atividades do semestre.
Em carta endereçada ao coordenador do Distrito Sanitário Yanomami e Ye’kwana (Dsei-YY) e ao presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek'wana (Condisi-YY), a Hutukara Associação Yanomami denuncia um quadro de agravamento do caos sanitário na Terra Indígena Yanomami, entre os estados de Roraima e Amazonas. O documento também lista casos de mortes de crianças por malária e suspeita de Covid-19.
A situação descrita pela associação yanomami é parte do quadro que levou a Corte Interamericana de Direitos Humanos a determinar esta semana que o Estado brasileiro aja com urgência para a "adoção das medidas necessárias para proteger efetivamente a vida, a integridade pessoal, a saúde e o acesso à alimentação e à água potável dos membros dos Povos Indígenas Yanomami, Ye'kwana e Munduruku".
Segundo a Hutukara, relatos recentes de indígenas descrevem “situações dramáticas e parecidas” em diferentes regiões do território. Além da explosão de malária, cujos casos aumentaram exponencialmente nos últimos três anos, a Hutukara também chama a atenção para o crescimento de registros de doenças facilmente tratáveis, como verminoses.
“A obstrução intestinal por bolo de áscaris em nossas crianças, [chegando] ao ponto de expelir vermes pela boca, não pode estar acontecendo. É inadmissível e mostra que há muito tempo não está sendo feito o tratamento com regularidade. As crianças têm suas barrigas inchadas por causa dos vermes, é como se fosse uma barriga cheia de mingau de banana, mas são vermes. Nós estamos sofrendo muito, não estamos vivendo bem”, denunciam as lideranças yanomami.
Imagem publicada pela associação yanomami no Facebook mostra vermes expelidos por crianças de 1 a 5 anos. “Nesses últimos 9 meses, nos postos de saúde que estão em nossa terra, não vimos Albendazol, um medicamento barato e básico para tratamento de verminoses”, diz a Hutukara. Menos de 10 % das comunidades têm acesso à água potável por poços artesianos e outros sistemas de acesso à água, alertou a organização.
O documento reforça que o cenário de caos sanitário na Terra Yanomami é comprovadamente piorado pela invasão de dezenas de milhares de garimpeiros para a prática ilegal do garimpo. “É notório e demonstrado por estudos que a presença, em nosso território, de garimpos ilegais, têm graves impactos sobre a saúde e a alimentação de nossas comunidades, com graves situações de contaminação.”
Tukumã, que estuda gastronomia, com cerâmicas Tukano e Baniwa|Pedro Hassan/ISA
Os livros de bolso Cerâmica Baniwa e Cerâmica Tukano, lançados pelo Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), inspiraram o comunicador indígena Tukumã Pataxó (saiba mais sobre ele abaixo) a produzir uma série de vídeos sobre a arte rionegrina da cerâmica tradicional.
As cerâmicas Tukano e Baniwa sempre tiveram uma inserção na vida ritual nas comunidades indígenas do Rio Negro. A produção das peças, no entanto, foi levada ao limite do desaparecimento e, por isso, as publicações retomam saberes que estavam restritos a poucas artesãs.
Com bom humor e curiosidades, ele mostrou os saberes por trás das peças que fazem parte do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, reconhecido como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A ação com Tukumã Pataxó foi realizada pelo ISA, Casa Wariró e Foirn em parceria com a Tucum Brasil e rede Origens Brasil®, e contou com o apoio da Nia Tero, União Europeia e da Fundação Rainforest da Noruega.
Quem é Tukumã Pataxó?
Nascido na aldeia de Coroa Vermelha, extremo sul da Bahia, Tukumã Pataxó desde pequeno aprendeu sobre as questões ligadas ao ativismo de seu povo, entre elas a luta pela demarcação de terras.
"Desde cedo vivenciamos isso diariamente e entendemos por que precisamos ter o nosso local e por que ele é tão sagrado pra gente", conta o jovem de 22 anos, que hoje cursa gastronomia na Universidade Federal da Bahia, a UFBA. Apesar da influência das lideranças indígenas de família, foi na escola que o seu ativismo realmente tomou forma.
"Na aldeia, eu estudei em um colégio trilíngue, que ensina o português, o inglês e a nossa língua nativa, o Patxohã", diz. "Essa experiência e a vivência dentro da comunidade me ajudaram muito na militância e na construção do ser indígena."
Para ele, a escola foi um espaço importante para aprender a preservar sua cultura, sua língua, seus esportes e suas tradições.
O que é o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro?
O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, conjunto de práticas e saberes milenares dos povos do Rio Negro, agricultores por excelência, foi reconhecido em 2010 anos como patrimônio imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Estão catalogadas, ao todo, mais de 300 variedades de plantas cultivadas pelos 23 povos indígenas que vivem na região há milênios, além de 32 espécies de peixes comestíveis.
Fazem parte do sistema as técnicas de manejo dos espaços de cultivo (roça e quintais); do sistema alimentar; dos utensílios de processamento e armazenamento como a cerâmica e a cestaria; e, por fim, da conformação de redes sociais de troca de sementes e plantas que se estende de Manaus, no Amazonas, a Mitu, na Amazônia Colombiana.
O cultivo da mandioca brava, por meio da técnica de queima, plantio e manejo de capoeiras (conhecido como coivara), é a base desse sistema, compartilhado pelos povos indígenas da região.
Tukumã com cerâmicas do Rio Negro. Foto: Pedro Hassan/ISA
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Movimento indígena do Rio Negro exige mudanças na Funai durante mobilização
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) se uniu ao ato de servidores e também pediu a exoneração do presidente Marcelo Xavier e justiça por Dom Phillips e Bruno Pereira
Povos indígenas do Rio Negro se manifestam em frente à sede da Funai em São Gabriel da Cachoeira contra o desmonte do órgão|Ana Amélia Hamdan/ISA
Uma manifestação multiétnica, com discursos nas línguas Yanomami, Tukano e Baniwa, e organizada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), se somou à mobilização de servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) em São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste do Amazonas, nesta quinta-feira (23/6).
Em várias partes do país, aconteceram protestos pelo crime bárbaro contra o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira e pela saída do presidente da Funai, Marcelo Xavier.
Cerca de 120 pessoas, entre lideranças indígenas, professores, mulheres, crianças e indigenistas participaram do ato em frente à Coordenação Regional do Rio Negro (CR-RNG) da Funai. Em seguida, os manifestantes seguiram em passeata até a Maloca/Casa do Saber, na sede da Foirn. Protestos aconteceram ainda em Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, municípios da região do Rio Negro.
Diretor-presidente da Foirn, Marivelton Barroso, do povo Baré, disse que os indígenas do Rio Negro querem ser reconhecidos por sua riqueza multiétnica, mas demandam políticas públicas e segurança para o território e reforço na estrutura da Funai. “Estamos fazendo o papel do Estado. Foi assim durante a pandemia, no combate à Covid-19, e está sendo assim para garantir a segurança nos nossos territórios”, disse.
Falando em nome dos 23 povos indígenas da região do Rio Negro, Marivelton Baré leu uma carta-manifesto da Foirn contra o desmantelamento da política indigenista no Brasil, denunciando o enfraquecimento proposital das iniciativas de proteção e monitoramento territorial — o que abre espaço para pressão do garimpo e do narcotráfico, atrapalhando as atividades da economia sustentável.
“Nos últimos três anos, as invasões aos territórios indígenas no Rio Negro aumentaram vertiginosamente. Existem no momento registrados pela Funai Rio Negro 10 denúncias de garimpos ilegais na região, assim como denúncias crescentes da atuação do narcotráfico em vários afluentes da margem direita do Rio Negro, como os rios Marié, Téa, Jurubaxi e Uneuixi. A atuação de bandidos na região afeta as atividades produtivas sustentáveis dos povos indígenas, como o turismo de base comunitária e a agricultura, além de trazer medo e insegurança para as comunidades indígenas”, afirma o texto.
São Gabriel da Cachoeira é conhecida por ser a cidade com maior concentração de população indígena no país, reunindo povos como os Baniwa, Tukano, Baré, Yanomami, Arapasso, Tuyuka e Piratapuya.
Com pintura tradicional, o tuxaua Carlos Lopes, do povo Yanomami, morador da comunidade de Maturacá, fez um duro discurso em sua língua, alertando para os constantes ataques dos homens brancos.
A liderança demonstrou tristeza pela morte de Dom e Bruno e se disse preocupado com o avanço do garimpo ilegal e com a morte de crianças. “Eu sou Yanomami real. Quando foi criado o Brasil, já existia Yanomami verdadeiro. Mas como o branco veio querendo destruir a gente?”, questionou.
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Tuxaua Carlos Lopes, do povo Yanomami, fez um duro discurso em sua língua alertando para os constantes ataques contra os indígenas|Ana Amélia Hamdan
Presentes no protesto, lideranças femininas denunciaram a falta de políticas públicas e pediram mais saúde, segurança e educação para os indígenas. Diretora da Foirn, Janete Alves, do povo Desana, falou na língua indígena Tukano.
“A gente tem nosso direito, a gente tem nosso Planto de Gestão Territorial e Ambiental, é nosso plano de vida, a gente quer implementar e por isso estamos lutando. Peço o fortalecimento das mulheres, estamos lutando contra a violência. Queremos respeito a nossos direitos e queremos fortalecer o bem-viver dos povos indígenas do Rio Negro”, ressaltou.
A professora e liderança Auxiliadora Fernandes, do povo Dâw, mobilizou estudantes para que participassem do ato. O povo Dâw vive na comunidade Waruá, em frente à principal orla de São Gabriel, e para chegar à cidade precisa atravessar trecho do Rio Negro. Já durante a travessia, o grupo veio levantando faixas de frases de protesto, cobrando seus direitos.
No ato em São Gabriel, os servidores da Funai leram também uma carta-manifesto, intitulada “Nenhuma gota de sangue a mais”. Além de manifestarem profunda tristeza e indignação pelo crime contra Dom e Bruno, os indigenistas cobraram responsabilização dos culpados e exigiram melhoria na estrutura de trabalho e segurança para a execução de atividades para promover e proteger os direitos dos povos indígenas.
Estiveram à frente da mobilização a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef/Fenadsef), a Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef) e a Indigenistas Associados (INA), que pedem a saída do atual presidente da Funai, Marcelo Xavier.
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